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Editorial mais recente – Edição #53

Há 25 anos estava a começar o 11º ano. É sempre um ano estranho, porque já não se está naquele nervosinho de início de secundário e ainda não paira a nuvem de stress permanente dos exames nacionais. Uma espécie de ano-nada.  Enquanto nadávamos colectivamente num intervalo bizarro entre Y2K e 9/11, a banda sonora reflectia essa crise de identidade cultural que surge sempre que uma década vaza para o início da seguinte. Era suposto sentirmos euforia? Apreensão? Optimismo? Ansiedade? Tudo e nada ao mesmo tempo.  O single “Back to School” dos Deftones, lançado há precisamente 25 anos, é um microcosmos perfeito deste sentimento de inadequação em lume brando, uma falsa indiferença herdada da Gen X que ganhou nova roupagem no advento do metalcore alimentado a chatrooms e Nokias 3310. Tanto a música como o vídeo correspondente encapsulam a essência duma charneira tão ansiada quanto repudiada, a eterna sede do cool saciada por gestos performativos copiados indiscriminadamente num pot-pourri de referências. Era mesmo assim, meus putos. Aquelas calças, aquelas mochilas, aqueles cabelos, aqueles piercings. Aqueles trejeitos roubados ao hip-hop, aquela postura ligeiramente corcunda, aquelas guitarras quase nos joelhos que mal dava para tocar, aqueles vocais alternando entre o falsete e o grito em coisa de segundos. Quem tinha uma banda na altura sabia o modelo de cor. A globalização crescente e a americanização dos media tinham-se encarregado de ensinar bem a lição. Mas a parte que mais me bate é a cena final. À medida que Chino Moreno e companhia desaguam no ginásio rodeados de adolescentes, sente-se uma urgência de explosão num misto de agressividade e companheirismo que viria a caracterizar a estética do início do milénio. E, por fim, o a capella do público em jeito de auto-hino antes de irromper em vivas que tanto têm de revolta como de conformismo amargo. Regressar às aulas no outono de 2000 era precisamente assim. E não confirmo nem desminto ter feito parte dos muitos coros súbitos e improvisados que, ao tocar para a saída, enchiam as escadas do pavilhão B a correr berrando o refrão da “Back To School” a plenos pulmões.

– Ana Leorne