Carte Blanche a Brisa

Tons de azul

Desde muito nova que a cor azul tem um cantinho especial no meu coração, talvez por ser uma das cores mais raras na Natureza.

Quando via as Navegantes da Lua dizia que a minha preferida era a Sailor Mercury – a azul, que surpresa -, sonhava pintar o cabelo de azul claro e escolhia os pins dos jogos azuis, por aí adiante. Até agora, o mais perto que estive de ter cabelo azul foi preto azulado na adolescência e azul e rosa na parte de dentro na altura do lançamento da “Outro Mar” (e uma vez fiz uma montagem no Photoshop e enganei os meus amigos do Facebook quando estava na faculdade).

Esse amor não me largou e ainda hoje quando vejo algo azul a minha atenção vai para lá, especialmente se for um destes quatro tons de azul: o Prussian Blue, o Chlorine Blue, o Ultramarine Blue e o YInMn Blue.

Nunca associei o azul a estar triste. Para mim, o azul transmite calma e energia ao mesmo tempo. É uma cor confortável, que liga bem com tudo e que se faz notar ao mesmo tempo. 

Há uns tempos contaram-me, por acaso, um bocadinho da história do Ultramarine Blue numa loja de decoração e eu fiquei curiosa e decidi ir pesquisar mais. Descobri que o pigmento é obtido de uma pedra chamada lapis lazuli e que já foi considerado mais valioso que ouro! O único sítio onde se encontrava tal pedra era no norte do Afeganistão e o processo de extração do pigmento era bastante caro, a ponto de haver contrabando do mesmo por ser um pigmento proibido durante algum tempo a menos que se tivesse grandes patrocinadores para o comprar. 

Mais tarde o Royal College of Art não aguentou não ver mais esta cor belíssima, penso eu, e decidiu oferecer uma recompensa a quem conseguisse criar uma versão sintética da cor. O químico francês Jean-Baptiste Guimet conseguiu chegar à fórmula que, consequentemente, foi intitulada de French Ultramarine

Podia ficar aqui o dia todo a falar de cores, mas fica para uma próxima. Acrescento só que a cor da minha “Nuvem” é o tal Chlorine Blue.

Mulan

O filme original da Mulan é o filme que me acompanhou desde criança. Ainda hoje sei grande parte das falas do Mushu – não puxem por mim! 

O Mulan começou a ser um dos meus filmes preferidos tão cedo que, durante muito tempo, achei que o Imperador dizia “não há uma mulher assim em todas as minhas tias”, quando na verdade ele diz “não há uma mulher como esta em todas as dinastias”. Que criança engraçada.

Ainda hoje me arrepio quando ouço a canção da banda sonora – “Mulan’s Decision – que toca no momento em que ela se levanta da estátua e decide ir e que, por acaso, está diferente no álbum oficial porque cortaram a minha parte preferida: os sintetizadores. Essa canção toca-me tão profundamente que sempre que a ouço penso: “Devia pôr isto a tocar sempre que tenho decisões importantes para tomar.” Em 2023 até aprendi a tocar a parte dos sintetizadores e fiz um beat com essa melodia no Logic Pro só porque sim.

Não sei se é porque o Mushu tem imensa piada, se é porque a Mulan me mostrou desde pequena que as meninas conseguem fazer tudo o que os rapazes fazem, se é porque tem uma avó muito cool, mas para mim sempre foi a melhor princesa da Disney. A cena em que ela corta o cabelo como se estivesse a cortar o seu eu antigo e a imagem que tinham dela sempre me marcou bastante, tal como a cena em que canta a “Reflection” com medo de desiludir a família e quem a rodeia. Quem não tem, right? Ser maquilhada e ir para uma fila de mulheres com esperança de ser escolhida para casar com alguém que não conheço não me parece de todo o melhor cenário. Eu também fugia.

Ainda hoje tenho um boneco do cavalo da Mulan (acho que saiu num Happy Meal há muitos muitos anos) no sítio onde crio.

As flores que aparecem na cena com o pai também me ficaram na memória e ainda hoje paro e fico a olhar para tudo o que tenha flores de cerejeira, mais conhecidas por sakura ou cherry blossom. Espero um dia ver muitas ao vivo.

Este filme lindo faz-me sentir de tudo e já o vi e revi mais vezes do que gosto de admitir. Tem partes muito cómicas, partes bem intensas, partes entusiasmantes e outras que são só bonitas. 

Se ainda não viram a Mulan, a original, eu recomendo.

Ir ao encontro da Arte

Para mim é curioso como tão facilmente deixamos de ir a museus e exposições quando acabamos a escola e não há mais visitas de estudo. Se há coisa que me tem inspirado nos últimos anos é ter voltado a essa prática graças às viagens que tenho feito.

Em 2022 fui a Berlim e aconselharam-me uma exposição chamada Dark Matter, onde decidimos ir na fé. Foi uma das experiências mais incríveis que tive em viagem até ao dia. Foi criada por Christopher Bauder, um interactive designer e media artist que, depois de fazer uma digressão mundial de instalações e performances, decidiu criar uma exposição permanente na cidade onde mora.

Não é novidade que eu tenho queda para experiências imersivas – o meu EP de estreia CASULO foi apresentado em Lisboa com um concerto imersivo; por isso, podia ter ficado lá o dia inteiro. Salas com peças criadas especificamente para gerar e refletir luz de uma certa maneira, com uma banda sonora a condizer que nos faz esquecer que lá fora está uma cidade movimentada. Uma pirâmide gigante na rua com puffs por baixo que muda de cor ao ritmo da música que o DJ está a passar. E não digo mais nada. Aconselho só.

Entretanto, 2023 foi o ano em que finalmente saí da Europa e consegui ir a dois cantos do mundo. E nesses dois cantos opostos do mundo visitei exposições parecidas: o ArtScience Museum, em Singapura, e o ARTE Museum, em Las Vegas. Os dois espaços têm salas em que tanto as paredes como o teto são ecrãs e nos transportam para outras dimensões, ou espelhos que nos fazem ver a mesma dimensão repetidamente. Os dois espaços têm pinturas apresentadas de maneira imersiva – no de Las Vegas estive à vontade uns 20 minutos a tocar num piano vertical dentro de uma pintura de um artista cujo nome não anotei. Uma das partes boas de ir a exposições sozinha é que não há pressa para nada.

Em Nova Iorque fui ao MoMA e deparei-me com uma pintura do tamanho de três paredes do Monet – pintura essa que não sabia que ia ver, mas que é das minhas preferidas e já tinha estado como fundo do meu telemóvel: a “Water Lillies”. Todas estas experiências me fizeram pensar: “que giro, mas porque não faço isto no meu país?”. Desde aí que ando de olho nos espaços e artistas portugueses.

Curiosamente, tinha começado a seguir o Guilherme Atanásio no Instagram há uns meses e ele anunciou a sua exposição “WE CAME HERE TO FEEL GOOD” – foi tiro e queda.

Há algo especial em estar nestes espaços físicos, reais e imediatos em que entramos na mente do artista e ele nos convida a interpretar tudo com a nossa própria mente. 

Recentemente ando com muita vontade de pintar telas também. Tem sido algo que me deixa mesmo feliz quando o faço e sei que isso parte de ter começado a expor-me mais a esse tipo de espaços.

Vai começar a ser tradição minha ir a um concerto/espectáculo local e a uma galeria de arte em cada sítio que visitar.

Podes escutar CASULO nas várias plataformas de streaming.

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