Ah, Guimarães. A cidade que deu origem ao nosso país e ainda a um festival de música exploratória, o Mucho Flow. Coisas de igual importância, certo?
Desde 2013 que o Mucho Flow, cuja 11ª edição decorreu entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, dá vida e cor à cidade de Guimarães. Nunca tinha ido ao Mucho Flow e atirei-me de cabeça para esta minha ida a Guimarães com a ideia (falsa) que me tinha sido transmitida por outros: o Mucho Flow tratava-se não só de um festival de projetos de música eletrónica como também de meia dúzia de bandas em ascensão, tendo pisado estes palcos bandas como black midi, Lankum e Gilla Band. Naturalmente, se tivesse feito uma pesquisa minimamente aprofundada, teria verificado não ser esse o caso. Porém, o facto de ter ido ao Mucho Flow com essa ideia não impactou negativamente aquilo que vivi no festival. O fator surpresa, afinal, valorizou a experiência.
Se tivesse que dividir a audiência do Mucho Flow em tribos, diria que se tratava de alternativos ecléticos com a vontade de explorar ainda mais o mundo da música (eu), malta que vinha de longe com a pedalada certa para partir a pista de dança, e uma classe que eu nunca tinha presenciado ao vivo em tão grande proporção… os electro-poppers. Estes estranhos seres prezavam-se pelo uso extensivo de poppers ao som do mais bruto hip hop e electropop. A nível de percentagem da audiência estaríamos a falar de 25%, 40% e 30%, respetivamente, com muito público espanhol misturado nestas percentagens. Os restantes 5% eram pessoas de Guimarães, seres especiais por si só, nem sempre com pedalada para ver os concertos sentados – que não eram assim tantos.
Algo que se notava também nos festivaleiros era que a maior parte destes eram repetentes, daqueles que compram o bilhete ainda antes do cartaz ser lançado, e já se tratava de uma peregrinação obrigatória. Sinais de que a confiança na curadoria da Revolve é máxima, e têm existido razões ao longo do tempo para a criação dessa confiança. A maioria dos nomes que passam pelo Mucho Flow estreiam-se em Portugal neste festival e a variedade musical é sempre imensa. Como se isso não bastasse, a nível de organização o Mucho Flow é exímio. A qualidade do som nas salas onde ocorreram os concertos – Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Teatro Jordão (nas galerias e no próprio auditório) e ainda o Teatro de São Mamede – não deixou nada a desejar. As deslocações curtas também ajudaram a que fosse possível mudar de sala rapidamente e trocar de concerto para concerto, de vibe para vibe, de experiência sonora para experiência sonora. Caminhadas com cinco a 10 minutos de duração entre salas para respirar – quem não gosta disso?
Dia 1 – 31 de outubro
Na noite das bruxas, o Mucho Flow ocupou o CCVF para a sua primeira noite de concertos.
Juntei-me a um grupo que se reunia à entrada do auditório principal à espera que os coordenadores de sala nos levassem para um auditório menor, explicando que o concerto das 21h começaria a horas. Quem não entrasse a tempo, não assistiria ao concerto de abertura de Rita Silva, cuja performance foi cuidadosamente pensada para envolver o público num estado de introspecção sem interrupções. Com a ajuda de cadeiras que convidavam a relaxar, o espaço do CCVF criou o ambiente ideal para o concerto de Rita Silva. À medida que o som dos sintetizadores modulares preenchiam o espaço, o público entregava-se à penumbra envolvente e hipnótica, onde jogos de luzes e sombras acentuavam a viagem sonora proposta pela artista. Rita conduziu-nos por paisagens tanto cósmicas quanto íntimas, através de projeções que remetiam a cenários de glaciares majestosos, nuvens densas e auroras boreais. No fim da atuação, o júbilo era evidente entre os presentes: um concerto assim, mesmo após o jantar, faz maravilhas ao espírito de um festivaleiro.
Fora da sala, depois do concerto, um outro grupo que não havia entrado a tempo do concerto perguntava a quem assistiu se tinha sido fixe. As respostas foram claras: um espetáculo. O ambiente estava oficialmente criado para o Mucho Flow 2024.
O festival seguiu para o palco do CCVF (uma blackbox improvisada) e eu também. Estava à espera de chegar e ver alguém em frente a um computador e a uma mesa de efeitos, e qual não é o meu espanto quando me deparo com os britânicos Ebbb, um trio de pop experimental que combinava bateria (Scott MacDonald), eletrónica (Lev Ceylan) e voz (Will Rowland), cujo primeiro EP, All At Once, foi editado em junho pela seminal Ninja Tune. Desde o primeiro compasso, o som poderoso da bateria misturava-se com batidas eletrónicas intensas, criando uma fusão explosiva. Sobre esta parede ensurdecedora, os vocais etéreos surgiam como um contraste poético, uma melodia suave e sonhadora que equilibrava a intensidade sem a diminuir. Os Ebbb, com o seu som audacioso e experimental, conseguiram aquecer o ambiente e ultrapassar por completo as minhas expectativas.
Para reforçar ainda mais esta quebra de expectativas, chegou a vez do duo sul-coreano Hypnosis Therapy protagonizar um dos momentos mais enérgicos do Mucho Flow. O duo é formado pelo veterano rapper Jjangyou, o carismático performer da dupla, que surgia de tronco nu, agitando o microfone num ritmo irrequieto e cantando à velocidade de um Eminem coreano, e Jflow, o diretor artístico desta atuação, que por sua vez criava uma fusão de techno, house e hip-hop que fazia movimentar ritmicamente o meu braço direito de cima para baixo com a palma da mão aberta. Espalhando água pelo auditório, Jflow brincou que este era um concerto onde “se precisava de beber muita água”, incentivando o público a manter-se hidratado e disposto a acompanhar a intensidade do espetáculo. O concerto atingiu o clímax quando este coloca uma máscara de touro, simbolizando uma transformação para a explosão final: um moshpit que se formou enquanto o público entrava num estado selvagem, típica de um grande concerto de hip-hop. Durante o concerto da dupla, não pude evitar uma reflexão curiosa: “E se ele estivesse a cantar sobre as maiores atrocidades humanas, e nós, sem entender, estivéssemos a aplaudir?”. Mesmo que fossem sobre os temas mais insólitos, aquele público, eu incluído, teria continuado a aplaudir, uma prova de que, quando a música cativa, a linguagem deixa de ser uma barreira. Pagava para ver este concerto novamente.
Para encerrar a noite, ainda cedo em comparação ao que os fãs do Mucho Flow estão habituados, tocou o excêntrico duo Bassvictim, que trouxe uma abordagem ousada ao electropop com muito swag e uma aura de rebeldia, desafiando as normas modernas do CCVF de não se poder fumar dentro do teatro, pedindo um isqueiro para acender um cigarro no palco, arrancando risos do público. Para os electro-poppers, este foi um dos momentos mais marcantes do festival! Para mim, nem por isso.
Terminou assim o primeiro dia do Mucho Flow, um dia onde a plateia foi dormir repleta de satisfação. Porém, existia a expectativa do que ainda estava por vir. Com o Mucho Flow, nunca se sabe. O descanso era necessário; afinal, nos dias seguintes os DJ sets durariam até às seis da manhã.
Dia 2 – 1 de novembro
Com o Halloween encerrado mais cedo, o auditório do Teatro Jordão estava já a abarrotar às 17h, com quase toda a gente a marcar presença.
Ao entrar noto novamente a presença daquelas cadeirinhas ultra confortáveis no auditório, novamente a olharem para mim, mesmo a pedir para esticar as perninhas e deixar-me levar por mais uma performance. FRANKIE, violoncelista, apresentou um concerto comovente que, embora caísse por vezes no excessivamente simples devido ao solitário violoncelo, contava com expressões eletrônicas que adicionaram textura e suspense à sua música. Foi um belo concerto para começar o segundo dia de festival.
Logo depois, o palco do Teatro Jordão foi tomado por Nadah El Shazly, com uma mistura invulgar de músicos em palco, fazendo-me pensar num engenheiro de som convertido em DJ, uma harpista clássica e uma fada egípcia. Com este setup diferenciado, Nadah trouxe uma mistura intrigante de tradições árabes com eletrônica contemporânea com uma harpa a temperar a gosto. Durante a atuação fiquei sempre à espera que fosse atingido algum tipo de clímax. No entanto, as músicas nunca saíam daquela sonoridade de torrada com Planta sem sal e, embora eu visse Nadah a abanar o capacete delicadamente enquanto puxava do seu vape e enviava nuvens de mirtilo pelo auditório, a minha anquinha sentada confortavelmente na cadeira viajava naquele limbo de quase dançar mas sem nunca atingi-lo. Foi um daqueles concertos que talvez noutro cenário tivesse resultado mas, para mim, infelizmente esse não foi o caso.
Com o cair da noite, o cenário mudou-se para as galerias do Teatro, para mais concertos, claro. Anastasia Coope abriu o palco apenas com uma guitarra e batida eletrónica, mas cinco minutos depois queixou-se de um problema no som que, dizia, estava a estragar o concerto. Ainda assim, continuou a performance, afirmando que este seria “um concerto diferente”. E foi, mas da maneira errada. Após uma breve atuação de apenas 23 minutos, o concerto terminou abruptamente, deixando o público a explorar as opções de comida e bebida disponíveis durante um longo intervalo. Mas que raio aconteceu ali?
Assim, dirijo-me despreocupadamente ao carro, buscar o farnel que preparei por achar que as pausas entre concertos seriam escassas quando na verdade houve uma artista que se voluntariou para me dar tempo para comer à vontade. Enquanto jantava, via o céu a transitar de azul-rosado para preto profundo antes de entrar em palco Florence Sinclair, artista que explora identidades e sonoridades num universo próprio. Com o seu visual intrigante e uma voz grave e rouca, Sinclair trouxe para palco uma noite ainda mais escura e melancólica, de expressão contemplativa, quase como se conversasse com o céu escuro que eu tinha acabado de ver. A sua música, com muitos resquícios de Dean Blunt, densa e pesada no corpo, parecia ressoar com uma sinceridade bruta que envolvia o público, levando o público a uma introspecção coletiva.
Para aprofundar a atmosfera deixada, de seguida surgiram os Still House Plants, banda de pós-rock/slowcore que se aventurou em territórios de tristeza e existencialismo. Com o lançamento recente de if I don’t make it, I love u, o trio escocês formado por Jess Hickie-Kallenbach (voz), Finlay Clark (guitarra) e David Kennedy (bateria) trouxe uma performance carregada de intensidade emocional que, como prometido, deixou o público de rastos. A sua música afiada, afinal, não é de fácil digestão. Tocam canções que se movem numa cadência que poderia facilmente parecer monótona– as nada disso. A vocalista expressava lamentos de cortar a respiração; a guitarra intervinha com cortes súbitos e guinadas que, em vez de seguirem uma linha melódica suave, rasgavam o espaço; a bateria, com mudanças de tempo inesperadas, parecia desestabilizar a percepção do público. O som dos Still House Plants não é para agradar a todos, mas para quem se deixou levar, a recompensa foi gratificante. Este foi o último concerto do dia neste palco, e tinha chegado o momento de andar um bocadinho por Guimarães para regressar ao CCVF.
Algo caricato do Mucho Flow é que os espaços de convívio para os intervalos não existem em abundância. Para se conseguir descansar um pouco as pernas, era necessário sentarmo-nos ou no chão ou nos muros em redor (com a exceção das galerias do Teatro Jordão que possuíam uma zona de restauração). Em contrapartida, isto ofereceu uma imagem cómica. Ao som de um badalo, lá os festivaleiros se levantavam para os concertos, como se tratasse de uma campainha da escola a soar o regresso às salas.
Neste caso, após o badalo, o palco abre-se para uma viagem à Guatemala ao som de Mabe Fratti. Já a tinha visto antes no gnration em Maio de 2023, mas surpreendeu-me a autora do recente Sentir Que No Sabes, um dos meus discos favoritos de 2024, com a sua formação em trio: guitarra elétrica, violoncelo e bateria, deixando de lado o saxofone que outrora fazia parte do seu setup ao vivo quando a vi pela primeira vez. Por um lado, senti falta do saxofone, que trazia uma camada distinta, mas foi fascinante ver o violoncelo a enveredar por um caminho inesperado, por vezes a cruzar o drum’n’bass com a bateria.
Entre sorrisos e brincadeiras, Fratti e a sua banda executaram as músicas com emoção, entregando-se quando necessário, sem perder a intensidade. Quando o violoncelo atingia riffs distorcidos, o som quase resvalou num doom metal onde a guitarra elétrica assumia o papel de orquestra, reinterpretando arranjos com um toque de energia, algo que apenas podemos experienciar ao vivo. Era o concerto que mais aguardava neste festival e não desiludiu.
Contudo, fiquei triste com Mabe Fratti, não pelo concerto em si mas por ter sido o último espetáculo do segundo dia do Mucho Flow que teve instrumentos não eletrónicos. O sentimento foi tal que tive de me sentar no murinho a lamentar-me e distraí-me com o passar do tempo até que me apercebi que o próximo concerto já tinha começado há 20 minutos. Apresso-me e dirijo-me novamente para o palco, quando me deparo com um DJ a passar músicas, fazendo-me recordar da cultura dos concertos de hip hop de começarem com um set de um DJ para aquecer as hostilidades–e apercebo-me que não estou assim tão no mood para o set. Distraio-me novamente com as horas e só me apercebi que o concerto do rapper britânico Jawnino já tinha terminado quando a multidão abandonou a sala. A partir daqui, era a chegada de um dos momentos mais aguardados do festival: a festa de eletrónica, o after. Três DJ sets, cada um com hora e meia de duração, no teatro de São Mamede. Mas para infelicidade minha, o set de Alex Wilcox pouco me conseguiu cativar e fui para casa.
Dia 3 – 2 de novembro
O último dia de Mucho Flow começou de uma maneira infeliz pois um dos concertos pelos quais estava mais curioso, o de Clarissa Connelly, foi cancelado, fazendo com que os espectáculos começassem mais tarde do que o planeado.
Novamente deparo-me com o auditório do Teatro Jordão e noto que este está muito mais vazio em comparação com o primeiro concerto do dia anterior. A noite de ontem deve ter sido dura, pensei.
Mais do que o concerto que estava prestes a começar, reencontro a minha atração favorita do festival, as confortáveis cadeiras do auditório. Instalei-me nelas, com a cabeça bem apoiada, preparado para apreciar o que seria mais adequado chamar de performance do que simplesmente concerto. Bianca Scout apresentou-se com um outfit incomum e começou por realizar uma pequena dança com uns sapatos vermelhos iguais aos míticos sapatos do feiticeiro de Oz. Ao longo desta performance muitas coisas aconteceram, destacando-se umas guitarradas, um synthwave gótico e ainda dança contemporânea. Foi uma viagem pelo imaginário de uma rapariga que ambiciona ser uma fada e que tem uma fixação com Hello Kitty. Muita maluquice, sem dúvida, mas muito bom entretenimento.
Desloco-me para as galerias, onde iria atuar o segundo nome português do cartaz, os PAPAYA, supergrupo de pós-hardcore tuga formado por Óscar Silva (guitarra, Jibóia, Tormenta), Ricardo Martins (bateria, Fumo Ninja, Tormenta, Pop Dell’arte, Adorno, Lobster, e outros mil e um projetos) e Bráulio Amado (voz, baixo, ADORNO) que já anda nisto há mais de uma década. Prontos a apresentar Nove / IX, o mais recente longa-duração da banda, não restam dúvidas de que os PAPAYA deram um ótimo concerto. Pós-hardcore de tons negros e góticos, sonoridade própria e ousada, química de compinchas que já tocam juntos e se conhecem há muito tempo – neste caso, já totalizam quase 20 anos a tocarem em conjunto.
Na mesma onda da distorção dos portugueses, surgiram de seguida os University, trio de jovens deprimidos que tocam noise rock com uma atitude muito emo – afinal, cantam coisas como “I don’t wanna be my dad”. Os University deram um concerto de pouca treta e muito barulho, principalmente ruído branco eletrificado de uma banda inconformada com a vida. Tal foi a barulheira que uma das cordas da guitarra rebentou, mas com muito profissionalismo conseguiram continuar o concerto cheios de velocidade e reverb. No final, à boa maneira do rock deprimido, atiraram os instrumentos para o chão e bazaram. Certamente uma das descobertas desta edição do Mucho Flow que mais me deixou entusiasmado para ouvir em casa.
Para fechar as galerias do Teatro Jordão de vez, entraram os Angry Blackmen em cena, duo de Chicago que acredito ter sido convidado por estar a ganhar cada vez mais fama pelas críticas positivas da imprensa especializada em torno do seu mais recente álbum, The Legend of ABM. Brian Warren e Quentin Branch têm uma presença em palco muito mexida e cantaram músicas com temas antissistema, criticando os trabalhos das 9 às 5 e a injustiça social – e bem. Porém, senti que este concerto deixou algo a desejar. A música não me conseguiu captar e comparações com outros projetos de hip-hop de veia experimental, como os Run The Jewels, parecem-me até demasiado arrojadas para aquilo que apresentaram em palco. E, como se não bastasse, terminaram o concerto a pedirem ao público para ligar as lanternas dos seus telemóveis, criando um momento excessivamente forçado e artificial. Desnecessário.
Saí do palco das galerias do Teatro Jordão para uma performance de 33emybw na blackbox do CCVF que, com a ajuda dos visuais de Joey Holder, me levou numa viagem a um futuro distópico completamente caracterizado por visuais de larvas alienígenas. O som que ouvíamos tratava-se de uma eletrónica experimental que, devido aos seus ritmos irregulares, tornava a dança difícil mas não impossível. Sons sobrenaturais, desconcertantes e ácidos, cores múltiplas prontas a cativar uma audiência. A mim, pelo menos, cativou.
Por fim, tínhamos um dos nomes mais cobiçados do festival, sendo que era facilmente visível que muita gente tinha vindo de propósito para ver este grupo. De kispos de cores garridas, cabelos e sobrancelhas descoloradas e com frasquinhos nas mãos, um mar de electro-poppers surgiu pronto a assistir a um concerto de Snow Strippers, duo originário de Detroit formado por Tatiana Schwaninger e Graham Perez. Para quem não está a par da sua música, uma breve explicação: se gostam de sons que lembram electroclash dos anos 2000, é para vocês. Se acham que a depravação dos anos 2000 que o indie sleaze invoca é real, também. Agora imaginem isso num palco por onde já passaram nomes como Rodrigo Leão, Madredeus ou Yann Tiersen e como esse local foi profanado nesta última noite de Mucho Flow.
O rescaldo
Muito barulho e expectativa, cartazes ao alto, gritos por Tatiana. Mesmo para quem não aprecia a música do duo, era inegável que o ambiente estava ao rubro e que puxava um passinho de dança com uma presença muito forte de ambos os elementos do duo. Foi uma festa, sem dúvida.
No fim deste concerto, tomei a decisão de não me tentar enganar novamente e achar que iria gostar dos concertos do Teatro de São Mamede. Voltei para casa e dei por terminada a minha jornada por Guimarães.
O Mucho Flow não é apenas um festival para electro-poppers, música alternativa ou para os amantes de festa. É uma experiência para aqueles que têm o espírito aberto a novos sons, que procuram uma música que desafie convenções e que se aventure no experimentalismo sem restrições. Cada edição é uma oportunidade de mergulhar num oceano sonoro repleto de surpresas, onde a criatividade não conhece limites e onde a programação ousa arriscar e inovar a cada ano.
É esse compromisso com a originalidade que faz do Mucho Flow um evento imperdível, uma celebração do novo e do inesperado, onde cada actuação oferece algo diferente, algo que, muitas vezes, não se encontra em festivais mais convencionais.
Se o festival continuar a manter essa autenticidade e a audácia de explorar novas fronteiras sonoras, com certeza nos veremos em Guimarães no próximo ano. Afinal, o Mucho Flow é mais do que um festival: é uma afirmação de que é possível, sim, criar algo novo, excitante e verdadeiramente relevante na cena musical, e um convite para todos aqueles que acreditam que a música pode (e deve) ir além dos padrões estabelecidos.