Na imensidão do Atlântico, entre saudades e novos começos, nasceu um álbum que carrega em cada detalhe a travessia pessoal de Sara Cruz. Fourteen Forty-Five é o longa-duração com que se estreia a solo – mais do que um número, uma bússola emocional que traça a distância de 1445 quilómetros entre Ponta Delgada, onde Sara cresceu em redor da natureza, e Lisboa, onde amadureceu enquanto artista.
Num percurso entre duas margens, Sara constrói um folk-pop delicado e apaixonante, no qual as influências do folk norte-americano se entrelaçam com a sinceridade poética de uma cantautora que nunca abandona o eco das suas origens. Com a produção sensível do conterrâneo Cristóvam, Fourteen Forty-Five emerge como duas mãos cheias de canções que são, na verdade, pequenos mapas de um coração dividido entre mundos. Sara faz transparecer a dualidade de viver entre o familiar e o desconhecido, entre a memória e o horizonte.
Numa tarde, a Playback dirigiu-se até à Escola de Artes e Ofícios de Ovar, onde Sara apresentou o seu disco ao vivo pela primeira vez, para conversar com a artista. Sara falou sobre o processo de criação do álbum, compartilhando vivências e emoções, e recordou as suas pegadas até ao aqui e agora.
És natural dos Açores, uma região rica culturalmente, mas afastada dos grandes centros musicais. Consideras que este isolamento geográfico influenciou a forma como te expressas na música?
O contexto em que crescemos acaba inevitavelmente por ter uma influência grande na maioria de nós, eu diria – especialmente nascendo numa ilha. Cresci no meio da natureza. Tive a sorte de crescer num quintal com animais e árvores. Depois passava muito tempo a brincar com a minha irmã ou sozinha, passava muito tempo dentro da minha cabeça, com os meus pensamentos e a imaginar os meus cenários. Portanto, tive espaço e tempo para ser uma miúda criativa. Mesmo depois que fui crescendo, continuava a arranjar conforto nesses espaços de natureza e nesse sossego da ilha. Sempre foi uma coisa que me inspirou e que continua a inspirar-me.
Suponho que tenha sido nos Açores onde tudo começou. Como é que a tua relação com a música foi evoluindo?
Não me lembro de não estar próxima de música em algum momento da minha vida. Não há um antes e um depois da música, porque não houve um antes sequer. O meu pai, quando era mais novo, era baterista e vocalista de uma banda em São Miguel. O meu avô paterno foi um cantor maravilhoso açoriano que lançou discos, fez digressões e chegou a ir cantar aos Estados Unidos. O meu avô materno tocava violino, tinha um ouvido maravilhoso e muita sensibilidade musical. Portanto, tinha estas referências dos dois lados da família. Além disso, o meu pai tocava sempre guitarra nos jantares com os amigos, cantava e ouvia muita música em casa. Lembro-me de ser miúda e ir aos CDs dos meus pais e pôr a dar na aparelhagem. Gostava muito de o fazer, ficava ali sozinha a ouvir música. Havia um CD dos Supertramp que ouvia muito, porque tinha uma música que adorava, era a “School”. Nesta música, antes de entrar a batida aparece uma criança a gritar. Por algum motivo, achava aquilo mindblowing tipo “que incrível, uma criança a gritar”, fiquei mesmo obcecada e estava sempre a pôr em loop. O CD deve ter ficado todo riscado [risos]. Mas ya, ouvia-se muito estes clássicos lá por casa: Supertramp, Queen, The Cars, etc. Portanto, também desde sempre consumi muita música. Sendo que a minha relação com a música sempre foi muito eu na minha bolha.
Tu agora vives em Lisboa. O facto de Lisboa ser um mar de oportunidades no que diz respeito ao mundo artístico impulsionou-te a tomar essa decisão?
Sim, sem dúvida, foi a razão principal. Para mim, Lisboa é mesmo um hub criativo e de trabalho. Na verdade, isto aplica-se a vários tipos de arte, quer seja música, teatro, dança, etc. Há mais coisas a acontecer. Há mais movimento. E também queria criar uma comunidade, conhecer pessoas que fazem o mesmo que eu – estar rodeada por esse ambiente. Decidi ir para a capital porque na minha cabeça fazia sentido enquanto artista. Mas atenção, obviamente que não estou a dizer que em Portugal não há mais sítios onde aconteçam muita coisa, mas esta foi a minha escolha e ando sempre cá e lá. Vou aos Açores todos os meses, às vezes até mais do que uma vez por mês. Só em agosto fui lá três vezes-
Matar saudades.
Sim. Na verdade, quando não tenho uma desculpa para ir, arranjo [risos].
Conseguirias atingir o nível em que estás se tivesses permanecido nos Açores?
Não conseguiria crescer tanto enquanto artista, por falta de mais estímulos exteriores, eu acho. Foi onde cresci. Foi onde fiz o meu curso, na Universidade dos Açores-
O que tiraste?
Comunicação Social e Cultura, durante três aninhos. Nada a ver com música, concretamente. Mas ya, todas as oportunidades que consegui até então foram oportunidades que chegaram enquanto vivia lá. Inclusive o documentário para a Yamaha, o “House of Talents”, que surgiu ali por volta do início de 2021. Portanto, vivi grande parte da minha vida em São Miguel. Cheguei a viver um mês no Porto, mas entretanto veio a pandemia e acabei por não conhecer a cidade como queria. Mas sim, sempre fui muito based em São Miguel e as coisas surgiram na mesma, felizmente. Sou muito sortuda e grata por isso. Mas sem dúvida que é diferente, os estímulos que recebes. Num sítio como Lisboa é muito diferente e as próprias pessoas que conheces – estás com pessoas com quem te identificas, que fazem exatamente o mesmo que tu. Em São Miguel obviamente que também existem, mas como é um sítio que tem se calhar 150 mil habitantes, há menos pessoas a fazer seja o que for. Tal como há menos médicos, carpinteiros, etc. Há menos pessoas, no geral. Que não é mau de todo, também tem as suas partes boas que eu adoro, inclusive que até sinto falta com frequência [risos]. Mas no contexto da minha arte, é isso que sinto.
Fourteen Forty-Five é o título do teu primeiro disco e refere-se à distância entre Ponta Delgada e Lisboa, duas cidades que fazem parte da tua vida e que representam mais do que meros pontos no mapa.
Completamente.
Como se traduz esta dualidade no disco?
Nos últimos anos, essa dualidade tornou-se uma fatia muito grande daquilo que sou e o disco acabou por ganhar forma. A partir do momento em que comecei a viver entre dois sítios, achei que fazia imenso sentido ser esse o título do disco. É muito representativo da minha realidade. Daqui a trinta anos, quando olhar para aquele número, vou saber exatamente o que estava a acontecer, quais eram as circunstâncias ou como é que me sentia. Há meio que um carimbo – desta parte cronológica da minha vida.
O que é mais desafiante para ti: gerir a distância entre os lugares que chamas de casa ou gerir o tempo no meio do turbilhão que é a vida de uma artista?
O tempo é mesmo uma questão de fases, eu diria. Às vezes, tenho alturas que sinto – todos nós sentimos, eu acho – que são muito intensas e não sei para onde me hei-de virar, mas depois vem aquela fase mais calma. Tens a fase de turbilhão quando lanças um projeto, por exemplo na fase de lançamento do disco sinto que está imensa coisa a acontecer. Mas sei que é uma fase, são semanas ou meses. Tento sempre conjugar isso com as minhas idas à ilha, que geralmente vou ou a meio de uma fase mais caótica para recarregar e relaxar um bocadinho ou numa fase mais tranquila quando sei que tenho tempo, que posso ir com calma, que posso aproveitar. Portanto, vou simplesmente gerindo, às vezes vou por motivos pessoais, outras vezes vou por motivos profissionais, quando há um concerto ou assim. Felizmente estou a duas horas. Podia ser pior. São duas horas de avião e de mar, podiam ser cinco ou seis [risos].
Escreveste canções sobre a vida entre dois mundos, o Atlântico e o mundo urbano. Sentes que algum desses mundos grita mais alto no disco ou há um equilíbrio natural entre ambos?
Olha, acho que o disco foi gravado mais vezes na Terceira, mas se calhar acabei por escrever mais em Lisboa. Portanto, foi uma mistura bastante equilibrada das duas coisas. No fundo, tenho o coração fifty-fifty–
Nos dois lados, portanto.
Nos dois lados, ya. Sinto sempre que quando estou num lado, estou com saudades do outro, e vice-versa. Por exemplo, quando estou em Lisboa e vou para São Miguel, no dia a seguir fico “opa, estava bem aqui”, mas depois quando estou em São Miguel e é para ir para Lisboa fico também “estava tão bem aqui” [risos]. Juro, é mesmo essa a sensação. Mais uma vez, lá está, faz bué parte de mim essa sensação nos últimos anos. É por isso que esse número é tão importante para mim.
Era importante para ti que este primeiro disco retratasse as tuas origens?
Sim, apesar de não ter sido uma decisão super consciente. Não foi uma decisão do tipo “agora quero que este primeiro disco tenha um título que está associado à distância entre Lisboa e Ponta Delgada”. Não. Foi mesmo uma forma de expressão que me surgiu muito naturalmente e também dou por mim a cantar sobre casa ou sobre referências a casa ou sobre o Atlântico.
Já tivemos a oportunidade de te ouvir em português no disco de estreia da AVALANCHE, mas iremos algum dia ouvir-te em português com criações tuas?
Elas andam aí [risos]. Já existem algumas [risos]. Mas sim, não vejo porque não. Não vejo motivo para isso não acontecer. Neste disco, neste contexto, fez sentido para mim que assim fosse, mesmo por uma questão de self-expression–
Mas imagina, sentes mais facilidade em compor em inglês ou é-te igual?
Sim, acho que sim. Ou seja, não é um easy way out, não é um facilitismo de “ah, vou escrever em inglês porque é mais fácil”, não é por aí. Aliás, até porque a minha língua-mãe é o português. É mesmo por ser um bocado o universo onde habitei durante muito tempo: a música que se ouvia lá em casa, a música que ia consumindo desde miúda, etc. Quando pego na guitarra e quando vou compor tem sido se calhar mais natural para mim – desde o início e que continua a ser so far. Mas gosto muito de cantar em português também. As músicas que lancei em português tanto em colaboração – a “Neblina” e a “Corta-Chamas” – como outras coisas que vou compondo e escrevendo e pondo na gaveta, ou não, também gosto muito. Adoro cantar músicas de outras pessoas em português também. Por isso, não é uma teimosia, não é uma porta que está fechada.
O disco traz uma suavidade melódica, quase nostálgica, muito característica de ti, mas também uma estética inovadora e desafiante. “Faithful” e “Wild Habit” são exemplos disso. Sinto-te a explorar novas paisagens sonoras, é o objetivo?
Sim. Até porque foi a primeira vez… Aliás, já tinha músicas produzidas como a “Neblina” [uma colaboração AVALANCHE com Luar e Rita Onofre] e outras do género. Mas os trabalhos que lancei em nome próprio, excluindo se calhar a “Sunday Riddles” que já foi produzida pelo Luar, durante muito tempo que eram muito crus. Aquele primeiro EP, o Above Our Heads, era basicamente só guitarra acústica e voz e foi esse o meu registo durante muito tempo. Agora que era para fazer um disco, que eu sabia que ia ser um possível marco no meu percurso, queria mostrar algumas coisinhas novas. Eu, pessoalmente, queria explorar algumas sonoridades diferentes, porque é muito satisfatório, tipo a “Faithful” e a “Wild Habit” foram-
São precisamente as minhas favoritas do disco. Talvez até por soarem diferentes.
A sério? Que bom. Essas duas souberam-me muito bem. Produzi essas músicas com o Cristóvam. Sentia que estava mesmo a explorar, a ir para um sítio diferente e essa sensação é muito refrescante. Mesmo as outras músicas que não fogem tanto do meu registo habitual, que também foram produzidas pelo Cristóvam, têm outro tipo de corpo e densidade, eu acho. Sinto que já é uma coisa mais «a sério», têm ali muitos elementos. Já é mesmo um disco.
Sendo assim, como defines a sonoridade deste álbum?
Isso é uma excelente pergunta. Diria que há-de ser algo tipo folk-pop, por aí. Tem um bocadinho de várias coisas tipo até a “The Juggler”, que é a focus track do disco, até tem ali uma influência meio country. Depois a “Faithful” e a “Wild Habit” se calhar são uma coisa mais alternativa-
É uma junção de sonoridades.
É uma junção, ya. Mas diria que se tivesse de definir o disco havia de ser assim um folk-pop.
O álbum foi produzido pelo Cristóvam, também ele açoriano.
Também é açoriano, sim, é terceirense.
O que te levou a trabalhar com ele?
O Cristóvam é um grande amigo meu e também é um singer-songwriter que admiro imenso e que já anda aqui há muitos anos também a fazer coisas muito bonitas. Conheci-o há uns tempos, já vai caminhar para dez anos. Demos um concerto juntos em 2016 no Teatro Angrense – foi uma noite maravilhosa, a sala esgotou, foi uma coisa de sonho mesmo. Desde aí que ficámos super unidos, porque partilhamos também o mesmo caminho e universo. Além disso, o Cristóvam tem sido como um irmão mais velho para mim e um conselheiro também, ajudou-me muito a pôr tudo isto de pé.
Tu tens o Sean Hurley, baixista do John Mayer, da Lana Del Rey e de outros tantos artistas de renome, no teu disco.
Ah, sim [risos].
Como é que isto aconteceu?
Há uma plataforma que se chama SoundBetter onde tu encontras bateristas, baixistas, músicos de som e de bandas que todos conhecemos, e um deles é o Sean Hurley. Sou muito fã do trabalho dele, do tone dele, do som que ele tira do baixo e tudo isso, e vi que ele estava lá. Fiquei “opa seria um sonho ter o Sean Hurley a fazer parte da secção rítmica das minhas músicas”. Mandei-lhe uma mensagem, falei com ele e ele aceitou trabalhar comigo – foi bué simpático e ajustou ali um bocadinho aquele preço de mega baixista famoso de L.A. [risos] para poder ser uma cena exequível para mim e isso também deixou-me super feliz, porque mostrou que ele tinha vontade de fazer parte do projeto. Na altura, ele até disse “I’m always happy to be part of good music” e eu fiquei “yes” [risos]. E foi assim que aconteceu.
Mencionaste que o Sean é um artista que sempre admiraste. Além dele, quem mais faz parte da tua lista de inspirações/influências?
Ultimamente tenho ouvido Lizzy McAlpine, Leon Bridges que também lançou agora um disco incrível, chama-se Leon, que tem uma música que adoro que é a “Laredo”, Matt Corby, Ben Howard e essa malta mais folky. Gosto muito de Ryan Beatty, tenho ouvido o álbum dele em loop–
Não conheço, acho.
Tens que ouvir, vais gostar muito. O álbum dele chama-se Calico e é uma cena incrível. Na verdade, foram algumas das músicas que mostrei ao Cristóvam como referência do tipo “olha, gosto muito deste som”.
Como funcionou o processo criativo do álbum?
O processo criativo foi muito… Ia dizer sem pressão, mas também houve alguma. Mas foi muito eu, comigo, com a minha realidade e com aquilo que me andava a passar pela cabeça. O meu objetivo com este disco, sendo ele o meu primeiro disco, era que quando o ouvisse, sentisse que era eu que estava ali e que não estava a compor ou a produzir para pensarem isto ou aquilo, ouvirem isto ou aquilo, para parecer isto ou aquilo, percebes? Queria mesmo… Sentir que estava lá. O processo criativo foi muito por aí. Escrever as canções, perceber como elas me faziam sentir do tipo “gosto desta canção ou estou agarrada a ela só porque a escrevi do início ao fim?”, fazer muito esse exercício de seleção também e assim.
Como surgiram as canções? Nasceram primeiro as letras? Já tinhas antes acordes pensados?
Geralmente é ao mesmo tempo, tem sido sempre, desde que comecei a compor que é sempre: pego na guitarra e estou ali… Quase nunca é- tenho um texto ou um poema e pego-o para musicar ou tenho uns acordes e depois lembro-me que tenho aqueles acordes. Não. Geralmente é sempre uma coisa que acontece de mãos dadas, a letra e a música.
De que forma é que sentes que evoluíste nas tuas capacidades, desde o primeiro EP, Above Our Heads, lançado em 2019, até o concretizar deste álbum?
Primeiramente, a coisa mais óbvia para mim – que até já mencionei aqui – é que o Above Our Heads é praticamente só guitarra acústica e voz. Há ali uma altura que temos umas percussões na “Out with Grace”, por exemplo, mas é mostly guitarra acústica e voz. O EP foi muito eu sozinha, com as minhas ideias. Cheguei ao estúdio, sentei-me e gravei live guitarra e voz ao mesmo tempo e depois adicionámos umas coisinhas onde fez sentido. O EP não foi propriamente produzido, enquanto que este disco tem todo um trabalho de produção do Cristóvam e todo um percurso que fizemos juntos a explorar sonoridades e referências, o que fazia sentido ou não, etc. Foi uma construção muito diferente. Além disso, também sinto – e ainda bem – que evoluí como artista: que a minha voz, a minha forma de cantar e até mesmo a minha dicção são diferentes. Isso tem a ver não só com o crescimento, mas também com as coisas que entretanto vamos consumindo. Por exemplo, descolei-me se calhar de algumas referências que tinha muito na altura e passei para outras, o que acabou por influenciar o meu som.
Este é o teu primeiro álbum, mas transmite segurança e, sobretudo, identidade.
Oh, fico muito feliz por sentires isso.
Como é que se chega aqui?
Olha, é o meu primeiro disco, mas já comecei a compor e a tocar as minhas músicas originais ao vivo há dez anos.
Isso é muito tempo.
Ya. Sinto que isso ajudou-me a perceber um bocado aquilo que gosto, que não gosto, a encontrar a minha voz, porque aquilo que comecei a escrever e a compor há dez anos, apesar de ter cores parecidas, não é igual ao que estou a fazer agora – felizmente, porque é sinal que-
Estás a evoluir, lá está.
Exatamente. Isto para dizer que se calhar tu no álbum sentes mais essa maturidade, como falaste, porque é uma coisa com a qual eu já ando a sonhar e a pensar e a preparar há tanto tempo – o que é que gosto, o que é que sou musicalmente, o que faz sentido para mim, estou a performing ou estou a ser eu própria? E pronto, cheguei aqui.
Da forma que falas sinto que há também um crescimento pessoal a acontecer.
Sim, sem dúvida. Andam super de mãos dadas também, o crescimento pessoal e o crescimento artístico. Sinto que quando cresço enquanto pessoa, estou a crescer enquanto artista e quando cresço enquanto artista, estou a crescer enquanto pessoa. Isto está sempre muito ligado.
O álbum acabou de sair. O teu primeiro álbum. Como é que te sentes?
Estou super feliz. Mas ainda nem parece bem verdade. Tipo, o disco saiu [risos]. Depois deste tempo todo a prepará-lo e a gravá-lo já está cá fora. Gosto muito dele e quero muito que as pessoas o ouçam. Quero mostrá-lo às pessoas. Quero tocá-lo para as pessoas.
E tu já andas a fazer-te à estrada. Como te sentes ao levar este disco aos palcos? Isto porque ao vivo acaba por ser desvendado diferentes facetas das canções e do próprio artista.
É muito bom. Este verão, no Festival Maré de Agosto, já tocámos algumas músicas do disco mas que ainda não tinham saído na altura. Mas hoje [18 de outubro] é a primeira vez que vamos tocar o disco inteiro, do início ao fim, o que é muito entusiasmante. E depois temos aí uns showcases a acontecer, nas lojas FNAC, pelo país todo. No mês de novembro vou estar em Aveiro no dia 23, em Braga no dia 24, e nas FNAC de Gaia e do NorteShopping no dia 30. No dia 1 de dezembro, vou estar em Coimbra. Depois eventualmente um concerto de apresentação-
Muita coisa boa ainda por vir, portanto.
Sim e estou super excited.
Com o lançamento deste álbum, o que esperas que as pessoas sintam ou compreendam sobre ti e a tua música que talvez ainda não tenham percebido antes?
Isso é uma boa pergunta. Gostava muito que, acima de tudo, as pessoas encontrassem no Fourteen Forty-Five os seus próprios significados. Para mim, isso é das coisas mais bonitas da música. Quando ouço um tema que me diz muito assim do nada fico tipo em loop com ele, porque ecoou e falou comigo. Se o disco conseguir fazer as pessoas sentirem o que quer que seja, para mim, é o propósito principal. Além disso, foi um disco que passei muitas horas a trabalhar, a construir, a tomar micro decisões e decisões grandes, e foi um trabalho de muita gente que entrou no barco comigo, trabalhámos todos para alcançar o melhor resultado possível. Se as pessoas também conseguirem sentir isso ao ouvirem o meu trabalho do tipo “está aqui uma construção feita com cuidado, com atenção e com tempo”, também ficaria super feliz.
Percebo o que estás a dizer. Para mim, é mesmo a cena mais bonita da música, é surreal como é que uma canção pode carregar tantos significados diferentes consoante a pessoa que está a ouvir porque, lá está, temos todos histórias diferentes, ou seja, vamos acabar por interpretar de formas diferentes também.
Tal e qual, e que sintam alguma coisa. No outro dia, depois de um concerto meu, estava lá uma amiga minha que veio ter comigo e disse-me “estava aqui quase a chorar e nem sei bem porquê”-
Isso foi exatamente o que eu senti quando ouvi a “Wild Habit” ao vivo pela primeira vez.
Ai, isso é incrível. Fico super feliz de receber esse feedback. Só isso, para mim, é tão importante, porque nós não temos de racionalizar tudo aquilo que sentimos ou ter uma explicação. Às vezes ouvimos uma música que nos dá vontade de chorar ou sentimos outra coisa qualquer e não sabemos bem de onde é que isso vem, mas o facto da música ter permitido àquele sentimento um espaço para existir já é brutal. Quando ouço música também é isso que procuro. Quando ouço música não estou a pensar no instrumental ou nos acordes ou num truque que está presente, claro que também acho piada a essas pequenas coisas, mas estou sempre à procura de sentir alguma coisa. É o mais importante.
Sara Cruz leva Fourteen Forty-Five a várias FNACs pelo país durante o mês de novembro em formato showcase.