O Paraíso Tropical dos Quadra na praia do Taboão

Eram 17h50 quando, ainda de chinelos e calções molhados do rio, me dirigi ao recinto do Vodafone Paredes de Coura com o objetivo de assistir ao concerto de Quadra, banda oriunda da cidade do meu coração, no palco principal. Já os tinha visto antes, é verdade, mas perder a oportunidade de testemunhar uma festa capaz de instigar o caos nas ancas dos festivaleiros mais tímidos estava completamente fora de questão, e como era de esperar, ninguém ficou parado.

Hugo Couto (bateria), Sílvio Ren (guitarra), Sérgio Alves (baixo), Gonçalo Carneiro (guitarra), Lucas Palmeira (sintetizadores) e Miguel Santos (vocais) transformaram a praia do Taboão num autêntico paraíso tropical com o seu último álbum, Selva. Este álbum é marcado pelas suas temáticas relacionadas com amor, calor e a ligação entre estes dois, mas acima de tudo é sobre dançar e celebrar. A banda trouxe ainda alguns temas inéditos de um próximo disco ainda por lançar e presenteou o público com uma cover de “Paixão” dos enormíssimos Heróis do Mar. Os seis músicos, com uma coesão impressionante, ergueram uma gigante muralha sonora, equilibrando as energias de forma irrepreensível sem que nenhum deles perdesse o seu brilho individual, e aquecendo a pista de dança para as bandas que viriam a seguir com músicas como “Tropicália”, “Solar Explosion” (que embora não seja cantada originalmente por Miguel Santos, fez um trabalho excelente em replicar a voz de Gonçalo Ferreira, que se encontrava no meio do público a dançar), “Luz” e muitas outras. No fim tive o prazer de falar com o Miguel, conhecido como Jonas, que se juntou recentemente à banda, acerca da sua entrada e do percurso dos Quadra.

Este conta-nos que a primeira vez que os Quadra pisaram um palco no Vodafone Paredes de Coura foi em 2018 (bem antes da sua entrada): não no palco principal, nem no secundário, mas sim no modesto palco Jazz na Relva – e em apenas seis anos deram um salto invejável. Durante este período, o som da banda passou por uma transformação radical, deixando para trás os instrumentais de rock para abraçar uma sonoridade perfeita para uma pista de dança à sombra de palmeiras, acompanhada por gin tónicos em copo balão. Embora estes dois ingredientes não tivessem sido reunidos, a colina característica de Coura aliada a um pôr do sol satisfizeram o público praticamente de igual forma.

A dinâmica do grupo também sofreu muitas mudanças. “Durante o processo de criação deste último álbum, os Quadra (ainda sem vocalista) optaram por uma abordagem colaborativa, convidando vários vocalistas para cantar e contribuir com letras para diferentes faixas,” conta-nos Miguel Santos. “Entre os escolhidos estava eu, que recebi uma lista de canções para selecionar. Acabei por escolher “Tropicália” e “Sahara”. Inicialmente, era suposto participar em apenas um tema, mas o feedback que chegou foi que a voz encaixou perfeitamente no som que a banda envisionava para esta sua nova fase e então convidaram-me a gravar um segundo tema. Depois convidaram-me para atuar com eles e agora cá estamos.”

No entanto, embora os Quadra tenham agora um vocalista definitivo, a banda mantém a porta aberta para colaborações futuras com outras vozes. Além disso, Miguel Santos não está limitado ao microfone, e falou da abertura para assumir outros instrumentos nalgumas faixas. A única certeza que podemos ter é que esta banda bracarense nunca deixará de nos surpreender com novas ideias e sons diferentes pois “o desafio nunca será encontrar novidades mas sim colocar um travão no impulso de experimentar demasiado”. Assim, quem sabe o que a banda nos reserva para o futuro.

Quadra por André Ferreira
Fotografia: André Ferreira

Foi com esta nova formação que os Quadra conseguiram finalmente atingir um novo patamar no panorama da música nacional marcando presença em dois festivais de grande prestígio desde o lançamento do último álbum, Primavera Sound Porto e agora, Vodafone Paredes de Coura. Este último teve um significado especial para a banda por ser um festival onde já viveram muitos momentos felizes como festivaleiros e por atuarem no mesmo dia que uma das suas bandas favoritas, os L’Impératrice. “Esta era uma das nossas maiores  metas e foi extraordinário ver que conseguimos atuar num palco desta dimensão tão confortavelmente sem qualquer tipo de nervosismo, mas naturalmente que não será o nosso destino final. Gostávamos muito de atuar numa edição futura do festival Bons Sons e claro, [apostar numa] expansão internacional com concertos fora do país. Era muito interessante também atuarmos num festival de músicas do mundo porque gostávamos muito de ser categorizados dessa maneira.”

Os próximos passos desta banda tropical passam por continuar a fazer o que melhor sabem: “compor novas músicas, dar mais concertos, aprimorar a componente audiovisual, explorar novas sonoridades e lançar mais álbuns, sempre com a intenção de evoluir”. Há rumores (criados pela minha pessoa) de que o próximo disco poderá retomar a trilogia das especiarias, interrompida com o lançamento mais recente, Selva. Depois de Cacau e Chili, o novo álbum poderia chamar-se Canela—embora essa decisão ainda esteja no ar (novamente outro rumor criado pela minha pessoa, embora não tenha sido descartado pela banda). Seja qual for o nome, uma coisa é certa: os Quadra estão determinados a continuar a pôr as pessoas a dançar.

O novo disco dos Quadra tem data de lançamento marcada para 8 de novembro. Chama-se Lado Mau.

Filho do rock, do doom e de todos os géneros musicais que nos façam abanar as ancas e a cabeça, reside em Braga onde estuda engenharia. Poderão encontrá-lo em qualquer cave onde haja barulho e em qualquer local onde haja cerveja a preços abaixo da média.

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