Manchester. A cidade que chora sob um céu cinzento. Este é o pano de fundo que moldou algumas das bandas mais icónicas do século XX, um ambiente onde as gotas de chuva se misturam com guitarras elétricas e batidas distorcidas, e onde o sentimento de alienação e rebelião parece estar embutido no asfalto frio e molhado. Desde os sons rasgados dos The Fall, passando pela melancolia visceral dos The Smiths, até à pulsação sombria e eletrificante dos Joy Division, Manchester tem sido o epicentro de uma explosão musical que, mesmo em momentos de silêncio, nunca ficou perdida na memória.
Aqui, a música não é apenas entretenimento, é um mecanismo de escape, um meio de expressar as frustrações e aspirações de uma classe trabalhadora que encontra na arte a sua fuga. O pós-punk, o rock alternativo e o Britpop surgiram como as vozes de uma juventude inquieta, que transformava a escuridão opressiva da cidade em luz criativa. Mas, nos últimos anos, o foco parecia ter-se alterado. Outros cenários musicais começaram a captar a atenção global, e a velha Manchester, carregada de nostalgia, parecia estar em pausa. Parecia. Porque, na verdade, quem não ouviu falar da nova geração de bandas está apenas distraído. Manchester não deixou de criar, simplesmente transformou-se. E o nome que começa a emergir com força no meio desse renascimento é o dos Maruja.
Os Maruja – uma banda composta por Harry Wilkinson na guitarra e voz, Jacob Hayes na bateria, Matthew Buonaccorsi no baixo e Joseph Carroll no saxofone – são o mais recente exemplo do espírito criativo da cidade. A banda nasceu numa era de mudança e incerteza do pós-Brexit, e foi antes da pandemia que começaram a traçar os primeiros contornos do que viria a ser o seu som. No entanto, a evolução desde então tem sido tão drástica que, ao ouvirmos os primeiros EPs da banda (entretanto retirados do streaming), mal reconhecemos os Maruja como a mesma banda. Esta transformação, no entanto, não é surpreendente. Os Maruja personificam a dedicação ao crescimento artístico. A constante evolução faz parte do ADN da banda, que se recusa a estagnar ou seguir fórmulas fáceis.
Em 2023, os Maruja ganharam novo reconhecimento com o EP Knocknarea. Este trabalho, impulsionado pela recomendação do influente crítico musical Anthony Fantano, foi o trampolim que catapultou o quarteto para uma audiência maior. O EP é uma montanha-russa de emoções e sons, desde a intensidade ensurdecedora da faixa de abertura “Thunder” até à etérea e inquietante “The Tinker”, levando os ouvintes numa viagem sonora que desafia as expectativas e as normas. O impacto de Knocknarea é imediato: transporta-nos para um território musical inexplorado, onde o jazz se encontra com o punk. É uma surpresa constante, um verdadeiro manifesto de criatividade que nos deixou a salivar pelo que viria a seguir.
E não tivemos de esperar muito para escutar o sucessor de Knockarea. Em abril deste ano, os Maruja lançaram um novo EP, Connla’s Well, que veio reafirmar o que muitos já suspeitavam: esta banda está destinada a grandes feitos. Se os seus contemporâneos black midi, Black Country, New Road e Squid abriram caminho para uma nova onda de bandas britânicas experimentais, os Maruja estão a segui-los de perto, prontos para reclamar o seu lugar nesse movimento.
2024 tem sido decisivo para o crescimento da banda. Depois de terem pisado palcos icónicos, como o de Glastonbury, a sua popularidade explodiu, levando-os a uma digressão europeia que promete consolidar o seu nome entre os gigantes da cena musical alternativa. No início de outubro, os Maruja regressaram a Portugal (tocaram em agosto no Sonic Blast) para três concertos em território nacional, com passagens por Guimarães (para a terceira edição do Sonus Art Fest), Lisboa (no Musicbox) e Porto (na Socorro). Com o seu som poderoso e performances eletrizantes, os Maruja trouxeram consigo não só a sua energia avassaladora, mas também a infame chuva de Manchester – uma espécie de prenúncio atmosférico de que o show não seria para os fracos.
Antes do concerto em Guimarães, os Maruja falaram com a Playback sobre a sua música, a atitude que os define e o futuro que têm pela frente. Manchester continua a ser o berço de grandes revoluções musicais, e os Maruja são os seus mais recentes filhos. Não há dúvidas: estamos perante uma banda que vai deixar a sua marca na próxima década
A primeira vez que atuaram em Portugal foi em agosto, no Sonic Blast, mas o Joseph não pôde participar devido a uma lesão. Como é que isso afetou a vossa atuação e qual é o papel do saxofone na vossa música? Sentiram muito a falta dele em palco?
[Harry Wilkinson] O saxofone tem um impacto mínimo na nossa música. Sem ele, conseguimos dar o nosso melhor concerto de sempre [risos]. Naturalmente, não era o que desejávamos [tocar sem o Joseph], mas tivemos de o fazer porque já tínhamos comprado os bilhetes de avião, precisávamos do dinheiro do gig e iríamos perder milhares de libras em não atuar. Não tinha lógica atuarmos sem ele e tivemos de fazer algo sobre o assunto.
Quando é que perceberam que teriam de atuar sem o Joseph e como foi a decisão de subir ao palco sem ele?
[Harry] Foi num festival na Polônia chamado Off Festival, quatro dias antes do gig em Portugal. Foi no próprio dia e foi um pouco intimidante porque foi a primeira vez que tínhamos tocado como um trio. Mas partimos tudo e a atuação correu bem para as circunstâncias em que nos encontrávamos. O Joseph teve que descansar durante alguns meses por causa de dores intensas nas costas.
Na ausência do saxofone, como é que ajustaram o vosso processo de improvisação durante a atuação? Sentiram a necessidade de mudar a vossa abordagem?
[Matthew Buonaccorsi] Em algumas músicas, tivemos de sacrificar completamente o saxofone. O saxofone é uma parte tão essencial de algumas canções que, se tentássemos tocá-las sem ele, soaria ridículo. Em outras, improvisamos para preencher o vazio deixado pela sua ausência. No geral, acabámos por focar-nos na improvisação, que é algo em que somos bastante fortes, e isso ajudou-nos a adaptar-nos a cada situação. Foi um processo único mas ao mesmo tempo foi como se estivéssemos a perder um pedaço do coração enquanto tocamos.
Imagino que se fosse como se chegassem ao palco e tivessem que correr uma maratona mas de repente vos tirassem um braço: não é uma perna, mas sem o braço já é o suficiente para perderem o equilíbrio.
[Harry] [Risos] Foi exatamente isso.
[Matthew] Ainda não tinha pensado numa analogia, mas podemos te dizer que não o podias ter explicado de forma melhor. Pelo menos não é uma perna!
Durante as vossas atuações, vocês costumam ter setups diferentes, pintados, de roupa normal e sem camisola. Como é que decidem com qual vão atuar?
[Jacob Hayes] O ano passado passámos por uma fase em que estávamos muito obcecados com vikings, mitologia celta e o filme Northman, onde iam para a guerra todos pintados. Num concerto em Manchester, que foi a horas bem tardias, decidimos experimentar atuar com pinturas celtas e o público delirou. Ultimamente não o temos feito, mas não é por motivo algum específico. No entanto, isso pode vir a mudar no futuro. Tudo depende mesmo de como nos estivermos a sentir. Quando tocamos de tronco nu, é só por causa do calor.
A forma como se apresentam visualmente em palco influencia o vosso estado de espírito durante a atuação?
[Harry] Não sei bem dizer porque sempre que entramos no palco sentimo-nos automaticamente zangados de qualquer das formas. Por exemplo, neste momento sinto-me calmo, mas quando subo ao palco sinto-me muito zangado. Funciona como terapia, na verdade. É um alter ego que criamos para darmos à audiência uma experiência, tanto através dos visuais como dos sons. Trata-se de criar um espaço para as audiências se libertarem e darem um passo em frente emocionalmente.
Curiosamente, apesar dessa “raiva”, a vossa música transmite bastante emoção e até amor. Como é que este turbilhão de emoções surge?
[Joseph Carroll] Sempre que ensaiamos ou tocamos ao vivo, deixamos fluir o que temos dentro de nós. Nunca tentamos ser de uma forma específica para materializar uma ideia. Mesmo nos ensaios, há momentos em que ficamos emocionados e libertamos muita coisa real. É um processo bastante natural. Nós não conseguimos evitar sempre que tocamos chegar a um ponto em que libertamos tanta emoção que estava retraída.
[Harry] Muitas das coisas que digo, digo zangado e parecem agressivas, mas a maior parte é sobre amor, unir as pessoas e criar uma comunidade. Uma grande parte da nossa música é mesmo sobre a mensagem.
Dentro deste turbilhão de emoção incluiriam a alegria?
[Joseph] Nunca estivemos felizes nas nossas vidas [risos]. Embora estejamos muito zangados, queremos deixar uma mensagem de esperança. Há esperança, mas neste momento, estamos frustrados com tudo.
[Jacob] O local onde ensaiamos torna difícil sentirmo-nos felizes. Estamos a falar de fábricas abandonadas, frias. Chove todos os dias e há crackheads por todo o lado.
[Harry] Há uns anos, ensaiávamos num sítio onde a sanita tinha cogumelos a crescer lá dentro. Nós víamos crackheads a saltar o muro para cagarem nessa casa de banho. Também chegaram a roubar-nos a maior parte do material 2 vezes. [Silêncio]
[Matthew] Sinceramente, foi onde eu me senti mais feliz. Não sei do que é que eles estão para aqui a falar. [Risos]
Voltando às vossas atuações, da última vez que atuaram cá foi num festival de stoners e agora vão tocar num festival de música alternativa. Porque é que acham que conseguem chegar a tanta gente?
[Matthew] Somos uma banda multifacetada. O Sonic Blast é de stoners e nós também somos stoners. A nossa música é pesada, psicadélica e incorpora elementos de música eletrónica. Gostamos de criar experiências imersivas e, ao mesmo tempo, transmitimos uma energia punk in your face. As nossas influências são diversas, abrangendo desde o jazz e hip hop. Gostamos muito de dançar e acreditamos que isso se reflete na nossa sonoridade. Com esta tour, o objetivo é mesmo esse. Conectar com o maior número possível de pessoas.
[Harry] Hoje em dia, os gostos musicais são muito ecléticos, e como trazemos um pouco de tudo na nossa música, acreditamos que isso nos permite alcançar e envolver diferentes audiências com maior facilidade. Pessoas de todo o tipo de background, de idades diferentes. Temos os jovens moshers na fila da frente sempre à porrada e depois temos os paizões encostados à parede no fundo da sala que nos vêm comprar o vinil no final do concerto.
Por causa deste vosso lado eclético torna-se difícil colocar-vos um rótulo. Apesar de achar desnecessário colocar-vos dentro da uma caixinha, deixa-vos irritados que sempre que falem de vocês tentem rotular-vos com adjetivos como artsy, punky ou jazzy?
[Joseph] Nós entendemos. Desde que seja com carinho, não há problema. O único género que não queremos de todo ser associados é pós-punk.. As pessoas chegam e dizem “eles são uma banda de pós-punk.”. Não somos. É um dos géneros mais terríveis para nos rotularem.
[Harry] Pós-punk é uma palavra estúpida com a qual não nos queremos identificar. Quando as pessoas nos chamam isso, acabou. Não vale a pena continuarmos a falar porque claramente não nos ouviram. Só estão a dizer algo que alguém lhes disse.
[Jacob] Gostamos de todos os géneros, mas o pós-punk é um dos que gostamos menos. Nos últimos anos, têm aparecido bandas fracas [de pós-punk]. Gentrificadas, sem inspiração. Cópias de cópias desse mesmo género.
[Harry] Depois têm todas nomes estúpidos de objetos como lampshade [abajur] ou soup [sopa]. Parece mentira, mas existe uma banda chamada Library Card.
[Matthew] No início, o movimento estava interessante, com bandas como os Squid e músicas com nomes um bocado estúpidas como “Houseplants”. Eram cenas que me deixaram confuso, mas achei graça. No entanto, agora parece que há cada vez mais cópias, e o estilo está a cair no ridículo.
[Joseph] A nossa abordagem à música tem sido sempre tentar ser o mais originais possível com uma mensagem bonita e o pós-punk é precisamente o contrário disso.
Esta atuação será num palco muito diferente daqueles onde tocaram no Sonic Blast. O Sonic Blast era um palco aberto e o palco do Sonus é um espaço mais imersivo e escuro. Se conseguissem definir as condições perfeitas para um concerto vosso, o que escolheriam?
[Harry] Toda a gente teria que estar sob o efeito de ácidos ou cogumelos.
[Jacob] No deserto ou numa montanha acima das nuvens como no Meadows in the Mountains, que é um festival na Bulgária que sonhávamos muito em ir. Num local bonito, o sol tinha que estar forte e depois quando chegássemos desaparecia para assim estarem todos com um bom ambiente.
[Harry] O importante é mesmo a natureza. O Sonic Blast nisso foi fixe por causa da praia, da qual gostamos muito, e de todo o ambiente hippie.
Assisti recentemente na Netflix a um concerto dos Fontaines D.C. na prisão de Kilmainham [Other Voices: Fontaines D.C.], que apreciei bastante precisamente pela atmosfera. Têm algum plano para atuar num local como esse?
[Harry] Não temos nenhum desejo em específico. O importante é o espaço ter um bom som.
E falando agora do vosso som. Acham difícil chegarem todos a um acordo face ao som que tentam atingir?
[Joseph] Definitivamente não chegamos sempre a um acordo, mas o segredo é sempre fazermos muita música. Durante uma hora de jam, conseguimos sacar muito som. Podemos não concordar com tudo, mas vai haver sempre pedaços em que ouvimos todos e sabemos logo que aquele pedaço tem que ficar.
[Matthew] Focamo-nos muito também em desenvolver sons em específico com material eletrónico, principalmente através de pedais. Por exemplo, no som do baixo do novo single, a “Break The Tension”, Inicialmente desenvolvi um som que achei esquecível e estes três disseram que estava brutal. Aquilo estava diferente do que estava a pensar que queria fazer mas depois de discutir com eles comecei a apreciar o que tinha feito. Tem muito a ver com isso, desenvolver sons e discutir coletivamente até chegarmos a um acordo.
Além do novo single “Break The Tension”, recentemente lançaram uma coleção de jams intitulada de The Vault. Algum material dessas sessões foi utilizado na criação do novo single?
[Jacob] Sim, sim.
[Joseph] Não..
[Jacob] Sim, sim.
[Joseph] Não.
[Matthew] Ainda bem que conseguimos chegar a um acordo [risos]. Estivemos em Petersville durante um mês com o objetivo de escrever músicas para um álbum. Improvisamos durante longas horas e a “Break The Tension” é capaz de ter sido uma das primeiras canções que fizemos lá. Tentamos fazer uma música curta que puxasse muita agressividade. Quando ouvimos pensamos que aquilo soava a vikings e estava incrível. Após ouvirmos a jam, vimos o Northman, que é um dos filmes favoritos do Harry, e toda a gente adorou. Chamamos a essa malha “Break The Tension” porque veio de um pedaço da jam que fizemos que comparamos com a explosão de raiva acumulada nas batalhas do filme.
O que acham que é mais importante para evoluir musicalmente?
[Harry] Tecnologia. A tecnologia tem mudado a forma como vivemos e experienciamos o mundo. No caso da música, o som evoluiu significativamente, e a tecnologia exige que prestemos muita atenção a esses avanços. Conceptualmente falando, nunca ninguém vai tocar guitarra como o Jimi Hendrix, porque músicos como ele dedicavam-se inteiramente ao seu instrumento, sem tantas distrações. Hoje, temos muitas coisas a competir pela nossa atenção, o que torna difícil concentrarmo-nos completamente numa única atividade. Por isso, damos muito ênfase ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento dos sons. Além disso, bom gosto é essencial e é algo que só será trabalhado consumindo muita música de todo o tipo. O Joseph, em contrapartida, não precisa de nada disto porque ele já é bom que chegue, nem precisa de pedais [risos].
[Joseph] Depende sempre um pouco. Falando de mim, mas diria que evoluir musicalmente é quase tão importante como vivenciar experiências novas. Mas como o Harry disse, com a maneira como a tecnologia está neste momento tu consegues fazer música muito fixe com apenas bom gosto e com pouco conhecimento musical.
[Harry] A nível lírico também diria experienciar coisas. Eu estou constantemente a escrever letras. Sempre que tenho conversas, tiro notas e é sempre um processo que sem experiências não seria possível. Por exemplo, falar contigo agora, toda a gente que conheço na estrada contribuem para este processo.
A vossa música faz a ponte entre a cena punk de London e a cena nu jazz…
[Maruja] [Levantam-se e batem na mesa]
Não disse pós-punk!
[Matthew] Vamo-nos embora! [Risos]
Estava a brincar! [Risos]
[Joseph] Nós também, não te preocupes [risos]. Quando estávamos a encontrar o nosso som, o que estava a explodir no Reino Unido era a cena do jazz de Londres, com bandas como Ezra Collective e Yussef Dayes, e também a cena de Windmill, com grupos como os black midi e outros. Nós acabamos por nos inspirar nesses sons mais frescos. Apesar de serem géneros diferentes, vemos muitas semelhanças entre eles. O punk tem essa energia de libertação total, sem barreiras, e o jazz também tem esse espírito, onde sentes que podes fazer qualquer coisa. O que tirámos dos dois é essa sensação de liberdade e a ausência de limites.
Acho que a vossa música pinta um mundo que parece apocalíptico, como aquele em que estamos a viver agora. Têm algum plano para fazer um cine concerto ou mesmo fazer uma banda sonora para um filme?
[Matthew] Era uma ideia brutal. Por acaso, nunca tínhamos pensado nisso, mas era algo que gostávamos de fazer. Os melhores filmes têm as melhores bandas sonoras.
[Harry] Um dia, se a oportunidade surgir, seria interessante. Mas neste momento temos muita coisa nas mãos para tratar. Neste momento, estamos a fazer a nossa transição para músicos a tempo inteiro e infelizmente não conseguimos ter mão em tudo que são oportunidades.
Entendo que, com tantas coisas a acontecer se torne difícil, como estão a sentir-se neste momento com essa transição?
[Matthew] Durante muito tempo sacrificamos muito para estar numa banda. Não tínhamos férias e o dinheiro que ganhávamos era direcionado para a banda enquanto vivíamos na casa dos nossos pais. Para começar, essa era uma das nossas maiores dificuldades. Sair de casa dos nossos pais. Se já para pessoas com empregos “normais” já é difícil, imagina para nós. Todo o nosso dinheiro vai direto para viagens, renda e comida e é isso não está fácil.
Para terminarmos, com um novo single [“Break The Tension”] lançado anteontem (dia 3 de outubro), quando é que se pode esperar pelo álbum de estreia?
[Harry] As pessoas perguntam-nos isso constantemente. O que podemos dizer é que fazer um álbum é extremamente caro. Tem sido muito difícil, pois temos feito tudo por conta própria, já que somos independentes, o que muitos parecem ter esquecido. Não tivemos nem o tempo nem os recursos financeiros para lançar um novo álbum e ainda assim, estamos sempre a receber mensagens: “onde está o novo álbum?” ou “queremos um novo álbum”. Se não compreenderem o que se está a passar nas nossas vidas, não vão perceber quando ou se ele sairá. A paciência é uma virtude. Fomos roubados duas vezes e enfrentamos muitos obstáculos pelo caminho.
[Jacob] Não consegues investir muito na tua arte nem na tua vida quando te pagam 50 libras por um gig. Isto cria um obstáculo enorme à cultura.
[Harry] Muitas bandas de agora não têm esses obstáculos porque são feitas só de meninos ricos. O mal disto é que muitas dessas são bandas fracas e voltando atrás, muitas dessas são bandas de pós-punk porque há garantias de que vão ter concertos.
[Joseph] O Fred again.. é o melhor exemplo do que se está a passar.Ele apareceu do nada e ofereceram-lhe logo o trono. Ele é um menininho rico que vive ao lado do Brian Eno, que pode ser publicitado muito bem sobe ao palco e fica a tocar em botões. Ele é ok, né? Não é nada de mais.
[Harry] Tudo o que há de cultura no Reino Unido é apenas acessível aos ricos, não à classe operária. É uma pena porque há muitos talentos aí que passam despercebidos. Havia muitas bandas boas em Manchester nos anos 70 e 80, mas ainda agora há muita banda boa por aí.
[Matthew] Há mesmo muita gente talentosa, mas não são valorizadas. Nós queríamos dar um shoutout aos nossos amigos Enola Gay, que são das bandas mais trabalhadoras que conhecemos, e aos Opus Kink.