Inspirada pela vida e pelas pessoas, Ana Mariano lançou no final do mês de maio o seu álbum de estreia, Nuvem, uma coletânea de histórias que espelha tanto os seus altos e baixos como daqueles que a rodeiam. Desde melodias suaves que evocam ternura a melodias melancólicas que nos fazem mergulhar nas profundezas do nosso subconsciente, que sublinham letras poéticas, as canções de Ana Mariano registam a essência da esperança e da resiliência humana. Com produção de João Só e Luar, Nuvem é um manifesto de amor e de mudança, mesmo diante das maiores adversidades. 

De forma a descobrir mais sobre este projeto, a Playback conversou com a artista aveirense sobre as origens do álbum, os colaboradores e todo o processo criativo.

Capa Nuvem
Capa Nuvem
Gostava de perceber, antes de mais, quando é que teve início a tua relação com a música.

Tinha onze anos quando peguei na minha primeira guitarra. Comecei a tocar guitarra elétrica, assim mesmo rock. Tinha aulas de guitarra e era guitarrista de uma banda. Durante muitos anos só tocava. Pediam-me para cantar em coros, e até nessa banda pediam-me para fazer backing vocals, e eu “nem pensar”. Na altura, com os meus onze anos, já escrevia e já compunha cenas um bocado diferentes e estranhas, mas só p’raí aos quinze anos é que comecei a focar-me mais nisso. Portanto, continuei a tocar e a aprender umas coisinhas, mas para «as minhas canções», que eram versos mais ligados ao rap, cantava por cima de beats. Entretanto, decidi largar a guitarra elétrica e passar para a guitarra acústica. E agora sou esta rapariga do folk, sempre com a guitarra atrás. Portanto, tinha presente a parte poética do rap – lembro-me que ouvia muito Dillaz e lia muita poesia, sempre tive muito essa cena das letras e das palavras – e depois tinha presente a parte musical ligada à guitarra, que acabou por dar neste mix chamado Ana Mariano.

Começaste a tocar guitarra por iniciativa própria?

Fui eu que pedi aos meus pais, disse “quero muito aprender guitarra, quero muito estar ligada à música”. A minha mãe diz que a primeira aula que tive até foi de bateria, mas não gostei daquilo e ela disse “ainda bem que não gostaste porque não ia conseguir ter uma bateria em casa a fazer tanta barulheira” [risos]. Mas sim, fui eu que quis e, aliás, não tinha ninguém na família ligada à música, de maneira nenhuma. A minha mãe é engenheira e o meu pai é militar. É tudo assim muito diferente.

As primeiras coisas que me lembro de ver tuas, relacionadas com a música, foram uns covers à guitarra que colocavas no teu Instagram. Quando fazias estes vídeos, havia alguma intenção por detrás?

Sempre escrevi e compus muito, mas nós que estamos ligados à música e que gostamos de cantar e tocar temos sempre esta cena de querer fazer versões nossas de artistas que adoramos ou até de querer mostrar originais que ainda estejam por terminar. Imagina, não tinha assim nenhum plano na minha cabeça de “ok, vou fazer isto e daqui a dois anos lanço um disco”. Não consigo definir ao certo, mas penso que a minha intenção era aproximar-me um bocadinho das pessoas e dizer “estou aqui, escrevo, componho, gosto deste tipo de música, adoro estas canções, vou tentar fazer a minha versão delas e espero que vocês gostem de mim”.

Em que momento é que percebeste que conseguirias lançar-te numa coisa mais séria?

Então, lancei um EP em inglês – Everything I Touch. Lembro-me de o ter gravado no Namouche, que é um estúdio em Lisboa muito fixe, com o Joaquim Monte. Uma das faixas – “Ordinary View” – chegou a fazer parte do CD dos Novos Talentos FNAC 2019. Apercebi-me que foi desde aí que comecei a conectar-me mais às pessoas do meio. Por exemplo, nesse mesmo CD, estava também a Sara Cruz (com “I Heard”) e a Bia Maria (com “Dissabor”). Acho que foi o início de tudo. Foi muito importante para mim fazer parte dessa coletânea. Acho que foi a primeira vez que fiquei “ok, isto é possível”. E depois esse EP também esteve a rodar nas rádios, o que foi muito giro.

É um pouco difícil encontrar o EP nas plataformas digitais, pelo menos na íntegra.

Sim, é verdade. Imagina, comecei por largar a questão da poesia em português, dos versos mais virados para o rap. Quando decidi fazer esta cena de projeto original, comecei a escrever inglês com melodias de voz de forma a chegar à maneira mais fácil e direta de fazer soar mais próximo dos artistas que ouvia na altura. E, na altura, o inglês também era uma espécie de esconderijo para mim. Entretanto, comecei a aproximar-me de pessoas que cantavam inglês, de pessoas portuguesas que escreviam como se o inglês fosse a sua língua-mãe e comecei a aperceber-me que apesar do meu projeto ser giro não me definia como artista. Isto porque acabei por perceber que o lugar onde quero estar é na escrita, é nas palavras e é na minha língua-mãe. Não fazia sentido nenhum apresentar-me a cantar em inglês porque não é a minha língua. Nem sequer uso muitas metáforas para dizer aquilo que quero dizer. E pronto, fui-me afastando devagarinho do inglês e sim, não está propriamente disponível, apesar de que se procurarem bem conseguem ouvi-lo sempre.

Lançaste o primeiro single oficial, “Girassóis À Beira-Mar”, em 2022. Um ano mais tarde, desvendaste as faixas “Enquanto Voas” e “Recomeço”. Quando é que surgiu a ideia para o álbum?

Já há muito tempo. Escrevo muito, atenção. São nove canções de centenas. Aliás, a “Histórias”, que é uma faixa do disco, em 2021 ganhou o prémio Jovem Criador promovido pelo Município de Aveiro. E em 2023 ganhei o mesmo prémio com a “Recomeço”. E foram demos. Ou seja, não eram canções produzidas ainda. Devia ser sempre assim com as canções que se levam a concursos. Sinto que devia sempre mostrar-se a canção como ela é, sem a parte da produção. Mas sim, este disco já vem a ser concebido há muito tempo mesmo. Aliás, quando lancei a “Enquanto Voas”, já sabia que ia existir um disco relacionado com o tema. Já tinha o João Só comigo e já tinha também o Luar informado sobre isso. Na verdade, o disco já estava pronto há um ano ou mais, só que a altura certa para lancá-lo foi agora.

Fala-me um bocadinho sobre estes três primeiros singles.

Foram todos criados à guitarra, compostos por mim, no meu cantinho. Ou seja, não foram compostos em estúdio de mão dada com alguém, apesar de que os produtores que tiveram associados, como é óbvio, ajudaram-me nos arranjos e a tomar decisões estruturais. Levei a demo da “Girassóis À Beira-Mar” ao Francisco Meoli já com guitarra e baixo e o Meoli pegou nela e produziu o som. Ele é um produtor incrível que admiro muito. Fez a parte dele, fez a sua magia. A canção ficou como ficou por graças a ele também. Portanto, eu tratei da parte da composição e da guitarra e o resto foi com ele. Lembro-me que este single surgiu depois de ter lido um estudo qualquer sobre girassóis, que quando estava sol eles viravam-se para o sol e quando o sol desaparecia eles voltavam-se uns para os outros, lembro-me até de ver fotografias disso. Atenção que não sei se isto é, de todo, verdade [risos]. Nunca mais encontrei isto em lado nenhum. Não sei se foi da minha cabeça. Não sei se sonhei com isso. Não faço ideia [risos]. Mas lembro-me de achar super interessante, quase como se estivessem a sugar a luz que restou de cada um deles depois de absorverem a luz do sol. Fez sentido na minha cabeça. E este tema surgiu dessa ideia de plantarmos girassóis à beira-mar… Nós deixamos uma semente, plantamos girassóis à beira-mar e eles agora vão crescer e viver à maneira deles e apontar para o sol quando tem que ser e apontar para si quando tem que ser e está tudo certo. Tal como um relacionamento, mesmo que já não exista da forma que existia.

A “Enquanto Voas” é mais pessoal. 

É autocontemplativa. É uma canção de mim para mim, que fala de eu gostar muito de me compreender, de ter esta necessidade de saber sempre o que é que sinto, o porquê de tomar as decisões que tomo, o porquê de escrever as canções que escrevo, o porquê de ficar feliz ou o porquê de ficar triste, pronto. Sentia que ao estar muito virada para mim acabava por me fazer afastar das pessoas e não deixá-las compreender-me a cem por cento. Um dos versos é “Enquanto voas / Há pessoas / A perguntar por ti”. Parece que estou a falar para alguém, mas neste caso é para mim. “E há viagens / Que só se fazem / A sós com o coração”, sou eu a tentar explicar essa cena de “está tudo certo, há sempre dois lados para entender”. É preciso perceber isso, que ambos os lados são igualmente importantes.

E para a “Recomeço” chamaste um reforço.

O Janeiro, sim. A “Recomeço” surgiu depois de uma conversa que tive com ele. Portanto, combinámos uma sessão em casa dele mas, em vez de focarmos na sessão, ficámos horas à conversa. Acabei a falar com ele sobre assuntos da minha vida e vice-versa e de repente estávamos numa conversa super intensa. Lembro-me de ele olhar para mim e dizer – “Ana, estás tão preocupada, porquê? Se quiseres, amanhã podes sair daqui, ir viver tipo para Coimbra, mas podes começar uma vida de novo, ninguém quer saber, não faz mal nenhum, podes sempre recomeçar”. Cheguei a casa e estava com essa cena na cabeça, que nós estamos sempre nesta busca de pensar e tomar as decisões corretas e fazer as escolhas certas na vida, quando na verdade nós temos sempre a possibilidade de começar de novo e é tão simples como começar de novo. E ele trouxe-me essa realidade, então compus essa canção e lembro-me que depois de ter escrito o verso do “Eu sei que os dias vão passando / E tu queres tudo num segundo / Enquanto o tempo vai ganhando / Tu giras como gira o mundo” pensei assim “tenho que falar com o Janeiro, tenho que lhe mandar esta canção, tenho mesmo que cantar isto com ele, é a pessoa certa, tem que ser”. Mandei, ele respondeu-me logo “claro que sim, fogo, que sonho, quero bué isto, estava a precisar desta canção também”. Opa, foi um processo super bonito.

Pelo meio, ainda colocaste cá fora um tema que não entrou no disco, “Poeta”. Porquê?

Acho que só mesmo por uma questão de estética, de sentir que sonoramente não fazia sentido no disco, nem em termos de história – a narrativa que está por trás dessa canção. Simplesmente não fazia sentido pertencer ao disco e eu via o disco num todo e tomei então essa decisão. Pensei que se a adicionasse era só mais faixa para dizer que o disco tem dez canções e não nove. Não queria fazer isso.

É uma das minhas favoritas, por acaso.

[Risos] Tal e qual como o João, também era uma das favoritas dele, ele ficou triste por essa não entrar no disco.

Que critérios tens em mente para a seleção dos temas? Dás mais prioridade à história? À sonoridade?

É uma boa pergunta! Mas história. Ainda assim, acho a sonoridade muito importante. Gostava de ouvir as canções e sentir que elas eram atuais para mim. Por exemplo, algumas eram mais «velhas» – não eram canções com dez anos, «velhas» no sentido em que para uma pessoa que está sempre a escrever dois meses já é muita coisa. Então, ouvia e tinha que pensar – “Será que isto que estou a querer dizer é atual para mim? Será que sinto isto? Será que se daqui a dois anos for cantar isto ao vivo vou conseguir sentir e passar às pessoas? Mesmo não sendo uma história minha, acredito nisto ou alguma vez acreditei?” Se a resposta era sim, passava logo na triagem. De cinco canções ficava tipo uma [risos]. Quanto à sonoridade também é importante pensar – “Será que sonoramente isto me define como artista? Será que não? Será que vou ouvir isto daqui a cinco meses e vou pensar que não era bem isto que queria?” Quando apareciam os «e se’s» e os «talvez» dizia logo “não, já não vai passar, está tudo certo”. Pus de parte canções igualmente boas e que podiam chegar a outro público por terem outro tipo de história, mas foi uma decisão muito emotiva. Nós, artistas, somos muito emotivos e tomamos decisões emotivas, eu acho. Mas sim, a minha triagem é esta. Obviamente que depois peço opinião às pessoas à minha volta [risos], se bem que deixo sempre para último porque se pergunto no início fica uma confusão [risos]. Isto porque é muito raro as opiniões serem iguais, cada pessoa tem normalmente uma opinião diferente.

Ana Mariano
Fotografia: Pedro Ferreira
Nuvem é o nome do teu primeiro longa-duração. Há alguma história por trás do título?

Então, comecei a escrever as canções há algum tempo, como já disse. Muitas delas foram na altura da quarentena. Aliás, o tema “Histórias” ganhou aquele prémio durante a quarentena. Pronto, tive uma fase muito desafiante nessa altura. Todos tivemos, na verdade, mas a minha ainda veio antes. Sentia-me muito ansiosa. Era difícil acalmar-me, até sentia aquela dificuldade em respirar e o peito super pesado. A forma que arranjei de me acalmar foi olhar para o céu, para as nuvens e vê-las assim super majestosas. Isso, de certa maneira, acalmava-me, deixava-me cool down. Depois comecei a transportar isso para a minha vida pessoal. Imagina, estava no metro, começava a sentir-me um bocadinho mais ansiosa, fechava os olhos, pensava em nuvens e acalmava-me no momento. Achei que era giro que este primeiro disco tivesse esse título para relembrar a mim própria que já esteve tudo tão difícil e extremamente desafiante e que arranjei uma forma de que as coisas voltassem a ficar calmas. Também era importante para que, daqui a uns anos, olhe para trás e diga que fez todo o sentido.

O disco tem um ambiente sonoro muito caseiro e uma escrita que também é muito focada nas emoções da vida quotidiana. Podemos ver este disco quase como um diário em formato musical?

É uma pergunta difícil. Imagina, este disco tem tanto de autocontemplativo, como tem de contemplação do outro, da vida de outras pessoas, de coisas que me contaram, de histórias que fui ouvindo, pessoas que via na rua que imaginava – “Será que esta pessoa está bem?” – e inventava toda uma história à volta. Lembro-me que escrevia muito no comboio: apanhava o comboio, olhava muito para uma pessoa… Agora já não faço tanto isso, porque não ando tanto de comboio… Mas lembro-me de escrever em recibos. Inventava toda uma história em volta de um olhar de uma pessoa, ora um olhar triste, ora um olhar intenso e, se calhar, nem era nada assim. Por isso, não posso dizer que seja um diário da minha vida, mas pode ser sim uma coletânea de histórias, algumas minhas e outras não. Sou só o ponto de transmissão, estou só no meio a unir os pontinhos todos e a tentar que eles façam sentido. E depois há outra coisa importante que é o seguinte: quando as canções saem cá para fora, deixam de ser minhas. Não importa que a “Girassóis À Beira-Mar” seja sobre isto, que a “Recomeço” seja sobre aquilo. Cada canção é sobre aquilo que tu quiseres. Se tu quiseres que, por exemplo, a “Recomeço” seja sobre cozinhar omeletes e panquecas de manhã [risos] e que esse é o teu recomeço, está tudo certo. Vou dizer que sim, é sobre isso mesmo [risos].

Portanto, a ideia é que quem ouve interprete as tuas canções à sua maneira.

É isso mesmo, sim.

Sinto que trazes muito das tuas vivências para a tua música. De Aveiro para Lisboa, como te moldaram estes lugares?

Tu também és de Aveiro, não és?

Sim, sim.

Adoro Aveiro. Adoro a minha cidade. Aveiro é uma cidade muito especial. Moro em Lisboa agora por ter vindo para cá estudar e por ter também descoberto aqui esta questão de… Tipo, estas pessoas à minha volta, este grupo de amigos que tenho aqui é muito importante para mim, o que acabou por me afastar um bocadinho das minhas raízes de Aveiro, mas que estão lá sempre, a toda a hora. Mas em nenhum lado do mundo poderia ter tido a educação que tive de estar numa escola pública, de crescer junto de pessoas completamente diferentes, ou seja, com mais e menos possibilidades ou com e sem família em casa, e de aprender muito com a minha liberdade, que é uma cena que sinto que muita gente que conheço que cresceu em Lisboa não teve, por ser um bocadinho mais perigoso ou por haver muito mais gente. Fui sempre uma criança muito livre. A minha mãe deixava-me às oito da manhã na escola e às oito da noite eu chegava a casa. Apanhava o autocarro, fazia a minha vida e tinha amigos de todas as escolas, porque todas eram próximas, então ia fazendo as minhas amizades pelos cantos todos. Sinto que isso abriu-me a mente para muita coisa. Em grandes cidades, isso é pouco provável. Obviamente que a mentalidade é sempre diferente, as mentes são muito mais abertas, mas o olharmos para nós, sentirmo-nos independentes, sermos crianças e sentirmos que podemos ser o que quisermos é mesmo muito importante. Sinto que Aveiro permitiu-me isso. Nunca me senti julgada e sempre fui uma criança muito diferente. Rapei o cabelo de lado, fazia assim maluquices, vestia roupa muito estranha tipo calças cor-de-rosa com camisolas fluorescentes [risos]. E essa cena do bullying e de gozarem que acontece muitas vezes passou-me muito ao lado. Não sei, se calhar fui só eu que conheci as pessoas certas, mas sinto que os aveirenses são super abertos a abraçar coisas e a pessoas novas. Se tu vens de Madrid e vais viver para Aveiro e tens dezassete anos, toda a gente vai adorar, e eu acho essa cena tão fixe. Pronto, acho que Aveiro tem as pessoas, Aveiro é feito de pessoas muito boas e eu vou levar sempre isso comigo. A minha cidade é a minha arma, neste caso.

Imagina que tinhas ficado em Aveiro em vez de ir para Lisboa. Achas que conseguirias chegar ao patamar em que te encontras hoje enquanto artista?

Honestamente, acho que ia ser muito difícil. Temos esta parte boa de Aveiro que acabei de falar, mas depois há uma parte menos boa que é precisamente isso: não é um sítio que tenha muita gente a fazer música. Quer dizer, existe gente muito boa a fazer música incrível, existem bandas muito incríveis, de Aveiro e arredores, e que eu admiro imenso, mas que também vieram beber às «grandes metrópoles», ou seja, Lisboa ou Porto. Sinto que acaba por existir muito mais oportunidades aqui em Lisboa: conhecer as pessoas certas aqui. Coisa que também acontece obviamente noutros sítios se tu o permitires. Há muita gente que nunca saiu das suas cidades natais e que está super no meio e assim. Mas no meu caso… Estava na Faculdade de Letras, na Universidade de Lisboa, a tirar um curso de Comunicação e Cultura. No meu segundo ano, decidi ficar na cidade um verão inteiro sem ir a Aveiro e foi aí que decidi gravar as maquetes todas. Não conhecia ninguém que fizesse música, então ia à net procurar por contactos de produtores. Na altura, acho que as que decidi pegar foram nas que estavam em inglês e ia ter com produtores e ia sozinha. Cheguei a falar com o Ricardo Ferreira da Blim Records, que agora está à frente do projeto dos D’ZRT, e voltei a cruzar-me com ele quando fui cantar com a banda e com a Cláudia Pascoal no Altice Arena, e foi super awesome, tipo a primeira vez que falei com ele ainda era eu uma miúda [risos]. Reuni com o Joaquim Monte e com mais uma série de produtores. E isso se calhar nunca iria acontecer se estivesse em Aveiro. Lá ia ter dois ou três sim, mas se calhar nem ia haver abertura para uma miúda com apenas maquetes. Não sei. Mas acredito que ia ser muito mais difícil estar assim no meio como estou aqui em Lisboa.

Quer a nível lírico, quer a nível sonoro, tens algumas influências que gostasses de destacar?

Tenho muitas [risos]. Mas olha, sou uma rapariga dos The Beatles, do Bob Dylan e desse tipo de influências. Aliás, acho que isso se percebe logo. Mas também sou muito de Damien Rice, Leif Vollebekk que é um artista que poucos conhecem, eu acho, mas é o meu artista preferido de agora, é mesmo incrível. Na música portuguesa, adoro os Clã, o Tiago Bettencourt, o Samuel Úria, opa adoro tudo [risos]. Consumo muita música e consumo muita música portuguesa, há tanta coisa boa. Estou a falar agora das minhas referências, dos artistas que cresci a ouvir também, mas depois também ouço Fred again.. e adoro-

Ai sim, ele é muito bom!

Fico tipo “isto é incrível”. Mas opa, é difícil dizer-te uma referência do tipo “isto é mesmo a minha cena”-

É um mix de tudo, basicamente. 

Sim. Acho que a parte do songwriting e de ser cantautor é sempre a minha maior referência e vai ser sempre. E aí digo mesmo Damien Rice e Leif Vollebekk, são as minhas duas grandes referências. Mas depois é isso, um mix de tudo, tipo eu ouço o novo disco (HIT ME HARD AND SOFT) da Billie Eilish e fico “como é que é possível, isto está genial”-

Completamente, eu ando com esse disco em loop.

Juro, fico mesmo “quero fazer isto”. Mas sim, é estarmos um bocadinho abertos a tudo. A parte da história e da escrita é muito importante para mim. As palavras fazerem sentido é muito importante para mim.

Ana Mariano por
Fotografia: Ana Marques
Como é que chegaste ao João Só e ao Luar para depois começares a trabalhar com eles?

Então, o João não era meu amigo antes de trabalharmos juntos e o Luar era meu amigo antes de trabalharmos juntos. 

O João surgiu na altura em que eu produzia a “Girassóis À Beira-Mar” com o Meoli, ele pôs-nos em contacto e desde aí que não nos largámos mais. O João ajudou-me muito, ouviu as minhas canções quase todas – eu ia para estúdio com ele, mostrava e perguntava “e esta e esta e esta?” [risos], mas muitas canções mesmo. Sempre foi muito paciente a ouvir e ouvia as letras. Na altura, até me sugeriu fazer uma versão em português de uma música que eu tinha no EP em inglês, que era a “Insomnia”. Ele dizia “opa ‘bora traduzir isto para português e fazer disto uma canção, vai ficar muito incrível”. Mas pronto, percebi que não era o caminho. Sinto que o João, desde o início, sempre olhou para mim enquanto compositora e enquanto uma pessoa que tinha coisas para dizer. E sempre me permitiu isso, nunca teve uma postura de “vamos ver as letras”. Para ele, as letras e a parte da canção eram intocáveis, sempre. Ele sempre teve essa postura e isso deu-me muita força. A presença do João neste projeto e na minha vida deu-me mesmo muita força como songwriter, porque ele sempre olhou para mim como uma e nunca sequer ponderou “olha, esta palavra aqui”, era antes “não mexas em nada, isto está incrível”. Sempre me permitiu ser eu mesma nessa parte. Então, nunca mais o larguei. E o João com guitarras e a parte orgânica soar na perfeição é mesmo incrível, não há uma única guitarra que não soe incrivelmente bem. Ele consome tudo e ouve tudo e ouve muita coisa que é feita hoje em dia, tanto coisas atuais como coisas mais antigas e mistura isso e opa é muito incrível. É muito fixe trabalhar com uma pessoa assim. Depois pronto, trabalhámos juntos e ficámos muito amigos e vamos continuar a trabalhar juntos no futuro, sempre de braço dado, da forma que for. 

O Luar surgiu depois de já estar a lançar com o João algumas demos e algumas coisas, fui decidindo trazer também o Luar porque produzia comigo canções em casa e trazia a parte mais digital, das máquinas e dos sintetizadores. O Luar é incrível nisso. Acho que existe pouca gente a fazer isso tão bem como ele. E foi incrível sentir esses dois mundos diferentes a unirem-se e a respeitarem-se mutuamente. Eles iam falando um com o outro e iam-se respeitando e eu estava no meio assim a medir as forças e achava isso incrível. Quando digo «medir as forças» não é que haja alguma guerra, nada disso, era só eu no meio a ouvir a mandar sugestões “e se fizéssemos isto e se fizéssemos aquilo?” e isso era muito giro. Aprendi mesmo muito. Agora já estou a trabalhar em coisas futuras e sou eu que estou a pré-produzir sozinha e aprendi mesmo muito com eles os dois. Foi mesmo muito importante para mim ter-me cruzado com estas duas pessoas.

Lá está, tu trouxeste o João que tem uma bagagem orgânica e acústica e o Luar que tem uma bagagem digital e urbana. Foi uma combinação imprevisível mas que funcionou na perfeição.

Sim, ficou tudo a soar muito bem. Mas há canções que são só produzidas pelo João e que o próprio Luar dizia “não vou fazer nada, não acho que seja sequer importante”. Mas o João às vezes dizia assim “e se mandássemos ao Luar para colocar assim uns drones, mesmo à Luar?”. E mandávamos e ele punha. Foi um processo mesmo muito bonito. 

Até que ponto é que te envolves nos teus temas? Portanto, tocas guitarra, escreves e interpretas.

Estou sempre presente em tudo. Gosto de fazer parte de todas as sessões de produção, seja para gravar uma bateria, seja para gravar coros, etc. Sempre estive presente. Aliás, o João e o Luar dizem que eu também devia estar como produtora no disco, que devia assumir-me como tal. Ambos já me disseram isso, mais do que uma vez. Mas pronto, achei por bem que isso não acontecesse neste primeiro, porque foi mesmo muito mão deles. Mas sim, estou cada vez mais próxima disso. Ou seja, no início, tinha algumas ideias que não sabia como torná-las realidade. Sempre dei muitas ideias sonoras, tenho sempre o conceito muito presente, do tipo “quero fazer isto” ou “quero fazer aquilo”. Por exemplo, quando compus a “Senhor Pintor” estava com os meus pais em casa, na altura ainda morava com os meus pais, virei-me para eles e disse – “Quando eu cantar “Senhor pintor” / Não quer pintar o meu amor?”, vocês vão cantar “Meu amor” e vão fazer esta voz, ok?” E depois eu fazia aquela guitarrinha que entrava depois e fiquei logo “isto tem que ser cantado com coro”. E na altura decidi convidar os meus amigos todos. A malta foi toda para o estúdio – a Sara Cruz, a iolanda, o Luar, o YANAGUI, a Bia Maria, a Alda, a Rita Onofre, a Teresa Farias, a Marta Falcão, e a Flávia Pereira e o Pedro Palma que são dois amigos meus, que não são artistas. Esta malta toda veio para Vale de Lobos, onde eu estava a gravar o disco, e estiveram a fazer os coros comigo… Ainda tenho que fazer um post sobre isso… Mas estiveram a cantar o coro da “Senhor Pintor”. O coro é feito por eles, é a voz dos meus amigos e a voz das pessoas. Quando a compus, quando decidi ter um coro, decidi que tinha que ser um coro especial para mim, alguém que estivesse a transmitir-me a paz que eu precisava quando compus essa canção. Isto para dizer que faço sempre questão de estar presente e às vezes até sou chata [risos]. Lembro-me que o Luar, quando estava à procura das cenas certas de ambiências e sintetizadores, eu dizia “não, não é isso” e ele nem estava a fazer nada [risos]. Depois ele fazia, queria mostrar-me e eu “ah, se calhar até pode ser” [risos].

E as canções deste Nuvem, nasceram todas agarradas a palavras? Ou surgiram primeiro as melodias ou os arranjos? Há alguma regra no teu processo criativo?

Não tenho nenhuma regra. Às vezes, estou no avião e escrevo um poema inteiro e depois penso “tenho mesmo que musicar isto de alguma maneira”, outras vezes estou no Logic e começo a gravar cenas à toa, a pôr ambiências à toa e já estou a escrever cenas por cima. Outras vezes, estou à guitarra, tento ter melodias e não consigo e gravo guitarras por cima de guitarras e depois fica só intros, não consigo chegar a mais nada. Existe efetivamente uma coisa que há em tudo que é a parte da escrita, que é quando me surge coisas para dizer isso vai ter sempre alguma melodia relacionada, a minha maneira de exteriorizar isso é sempre através de melodias. Mas uma coisa que, por exemplo, ando a explorar muito e ainda há uns dias vi um direto que o Leif Vollebeckk estava a fazer e ele falou de uma coisa que a Joni Mitchell fazia muito para compor. Então, ela desafinava… E eu também tenho muito isso, mas já explico… Mas ela desafinava as cordas da guitarra até soarem bem, tipo desafinava para afinar noutra nota, até soarem bem, sem nenhuma afinação específica e começava a tocar até soar bem e depois… Ou seja, ela própria dizia que se sentia estúpida a tocar, sentia que não conseguia tocar aquele instrumento e era isso que a fazia criar canções novas. E eu também estou a explorar um bocadinho isso que é essa cena de voltar à estaca zero no meu instrumento, não fazer aquilo que já estou à procura ou que já vou fazendo automaticamente. E eu sou a rapariga das afinações. Eu estou num concerto e mudo a afinação da guitarra tipo três vezes e as pessoas ficam à espera enquanto eu estou ali a fazer a minha cena [risos]. Sinto cada vez mais esta cena de explorar novas sonoridades e de soar super bem afinações diferentes. Sinto que agora estou nessa fase de, fora da composição, me sentir estúpida a fazê-lo, sentir que não sei nada para surgirem-me melodias muito únicas e coisas que não faria se estivesse a tocar aqueles acordes que são seguidos uns dos outros.

Neste disco, tens duas colaborações. Já falámos sobre a “Recomeço” com o Janeiro, mas agora queria que me falasses um pouco sobre a “Nem Sempre O Amor” com a Bia Maria e sobre a tua relação com ela.

Quando compus esta canção, sabia que queria ter uma voz comigo do início ao fim, sabia que queria ter ou eu em harmonia ou a outra pessoa em harmonia a música inteira, senti que tinha que ser assim, que a música não ganhava ao ser uma canção ao piano, não ganhava ao ser uma cena com uma banda inteira atrás, com muita coisa a acontecer. Essa música ganhava com silêncio e com a pessoa certa a transportar a música para onde eu queria e a trazer uma certa densidade que ela precisava mesmo. Inicialmente pensei na Monday e até falei com ela sobre isso, mas ainda não tinha a música acabada, estava só em processo de fazer. Mas quando a acabei pensei logo “tem que ser a Bia Maria”. Os trajetos da canção estavam mesmo a levar para a Bia e pronto. Só sai se for com a Bia Maria [risos]. Mostrei-lhe a canção e perguntei “não queres cantar esta comigo?” e ela “quero muito”. Isso deixou-me super feliz. E quando a ouvi pela primeira vez fiquei super emocionada e arrepiada, com lágrimas nos olhos, porque senti que ela estava a trazer à canção a densidade que sempre pediu. É uma canção um bocadinho triste e complexa até. E a Bia conseguiu trazer essa… Unir tudo e fazer com que tudo ficasse exatamente como eu imaginava. E lembro-me de estar no Vale de Lobos com ela, quando fomos gravar essas vozes e gravámos ao mesmo tempo, separadas por um vidro, pronto. Ela estava no meio dela e eu no meu e gravámos ao mesmo tempo e foi mesmo muito mágico olhar para ela e estarmos as duas sempre coladas e a cantar aquilo a olhar uma para a outra a saber a densidade da canção. Há uma intensidade nas palavras… Foi um processo mesmo mágico.       

Tens alguma canção favorita deste álbum?

Olha, vai mudando de semana para semana [risos]. Mas neste momento é a “Afinar Silêncios”. Sempre me tocou muito essa canção. Aliás, sempre que a canto ao vivo entro ali numa cena muito minha, não estou preocupada com mais nada a não ser com aquilo que eu estou a pensar quando canto ou a razão pela qual escrevi essa canção. Que, por acaso, tem a INÊS APENAS ao piano. Sabes que essa canção já teve uma versão com banda?

A sério?

Sim! Essa canção inicialmente foi gravada no estúdio no Vale de Lobos com banda – com piano, bateria, a melodia que se ouve ao piano era em guitarra elétrica e tinha uma banda atrás e eu sentia sempre… As músicas já estavam todas em pós-produção e eu ouvia a “Afinar Silêncios” e ficava “não, não é isto”. Depois, a bateria entrava assim meio arrastada no refrão. Eu ouvia aquilo e pensava assim “isto está a afastar-me das pessoas, o que eu quero transmitir não está a passar musicalmente”. Na altura, lembro-me de falar com o João Só sobre isso do tipo “Opa e se esquecermos isto tudo e gravarmos outra demo à guitarra e convido a Inês para tocar piano? E a Inês faz no piano aquilo que eu faço à guitarra? Vou fazer a sessão com ela e assim será.” E ele “tu é que sabes, a canção é tua, eu confio em ti”. Íamos gravar ao Estúdio Zeco, mas o João ficou doente e a Inês, que não morava em Lisboa na altura, já tinha vindo para cá para gravarmos. Então, liguei ao Meoli a dizer “não sei o que fazer, tu tens que estar no estúdio” e acho que, nesse dia, ele ia tocar algures mas disse-me “dou-te a chave do meu estúdio, entras e fazes a sessão com a Inês lá”. Então, fui eu e a Inês para o estúdio do Meoli, com o computador dele, abri lá a sessão, pus a gravar e fizemos tudo juntas nesse dia, ali, eu a cantar por cima, ela no piano e eu também à guitarra a mostrar-lhe a cena, já tínhamos ensaiado um bocadinho antes. E foi super fixe, super leve, nada complexo. Saí daquela sessão, mandei ao João e disse “é isto, não é?” e ele “é”. Apagámos tudo o que tínhamos de antes e na semana a seguir fui gravar a voz final, foi um take de início ao fim, gravámos tipo três takes e escolhemos um deles. É uma canção que me toca muito também por essa cena de me ter sido permitido voltar atrás e dizer aquilo que queria dizer da melhor maneira-

O piano ajudou muito nisso, a transmitires o que querias dizer da melhor maneira. Trouxe outra sensibilidade.

Sim, sim, e a Inês tem essa sensibilidade. Lembro-me de ela estar a tocar isto e de se emocionar. Sinto mesmo que a Inês tem essa sensibilidade, não só quando toca, mas também quando escreve e quando canta e mesmo quando existe só. A Inês é uma pessoa super sensível e é impossível não gostar dela-

É muito especial.

Muito mesmo e respeitou aquilo que eu queria fazer. E eu não imaginaria ninguém a fazer aquilo tão bem como ela fez.

Como é que descreverias a tua música a quem nunca te ouviu?

Acho que é obviamente música de cantautor, de uma pessoa que tem uma história para contar, não necessariamente minha, mas existe sempre uma história por trás das letras, mas descreveria enquanto canções com palavras que importam. Essas canções têm um estilo, sim, mas não é… Já estou a preparar um segundo projeto, mas não posso ainda falar muito sobre isso [risos]… Quero muito trabalhar este, quero levá-lo ao vivo, vai ser muito bonito, mas o que eu quero dizer é que não será sempre a Ana à guitarra ou as canções mais folk ou mais orgânicas. O que existirá sempre é uma canção e as palavras a contarem uma história. Isso é certo, porque é aquilo em que eu acredito.

Vês-te então a explorar outras sonoridades?

Ai, sim. Vejo-me muito a mergulhar cada vez mais… Até a minha escrita sinto que está diferente, sinto que estou cada vez mais próxima de mim e daquilo que quero dizer e fazer e isso é muito fixe. O que está à volta vai ser também fruto disso. Se eu estou a evoluir na parte da escrita, a parte sonora também acaba por evoluir, aproximando-me mais daquilo em que eu acredito. Mas sim, acho mesmo que isso vai acontecer.

Já há planos para levar esta tua Nuvem aos palcos? O que nos podes adiantar?

Para já só posso adiantar que estamos a fechar datas para Norte e Sul do país, coisas mais pequenas.

Por falar no lançamento do disco, tu fizeste uma listening party na Pensão Amor. Como foi a receção da malta que esteve presente?

Opa, foi muito bom. Nós não partilhámos isso, foi assim uma coisa mais fechada, foi só uma partilha entre amigos e pessoas que trabalharam no disco, pessoas que fizeram parte do processo, seja na parte dos coros, seja na parte da produção, seja na parte da imagem, tudo. E depois tinha pessoas que admiro muito ou que nos admiramos mutuamente, pelo menos gosto de acreditar nisso, e fui convidando assim malta que gostava que tivessem esse momento, três dias antes do disco sair. Foi mesmo muito bonito. Houve um silêncio depois de ter passado o disco e eu estava “oh meu deus” [risos]. Lembro-me de olhar para trás e ver aquela malta que eu gosto tanto, o João Só, o LEFT., até o Romeu Bairos estava lá, a Sara Cruz, tinha família, tinha amigos, a JÜRA, malta de todos os sítios e mais alguns que estava ali com o propósito de ouvir as minhas canções que, pouco tempo depois, iam deixar de ser minhas. Aliás, naquele momento, deixaram de ser minhas e passaram a ser deles. Mas pronto, de repente, a sala em silêncio a ouvir as canções – as músicas a passarem e a letra a dar no ecrã. Foi super impactante para mim, receber todo o amor e respeito pela música e por aquilo em que eu pus tanto amor e carinho, tal como o João, o Luar e toda a gente que trabalhou no disco. De repente, estava ali um conjunto de pessoas a ouvir e a respeitar isso. Foi mesmo bonito.

Fotografia de destaque: Bruno Ferreira

Nascida e criada em Aveiro, mas com a Covilhã sempre no coração, cidade que a acolheu durante os seus estudos superiores. Já passou pelo Gerador, e pelo Espalha-Factos, onde se tornou coautora da rubrica À Escuta. Uma melómana sem conserto, sempre com auscultadores nos ouvidos e a tentar ser jornalista.
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