Na língua inglesa existe uma expressão – silver lining – que pode ser utilizada para descrever quando algo bom brota a partir de um acontecimento mau.
O Party Sleep Repeat (PSR), festival que ocorre na Oliva Creative Factory em São João da Madeira, tornou-se há dez anos – em 2013 – um silver lining para os amigos e família de Luís Lima, jovem sanjoanense falecido em 2012 vítima de cancro. A partir desse “Momento Único” – subtítulo dessa primeira edição –, erigiu-se um evento dedicado à música alternativa e às causas sociais – as receitas de bilheteira são doadas à Liga Portuguesa Contra o Cancro e à iniciativa local de apoio a famílias em dificuldades Apadrinhe Esta Ideia – que, ao longo da última década, se tem tornado numa referência para a região e para outros festivais portugueses, tendo inclusive já recebido dois prémios atribuídos pelos Iberian Festival Awards: o de melhor festival indoor, em 2015, e o melhor festival de pequena dimensão em território nacional, na gala de 2016.
Após três anos sem festival em consequência da pandemia da Covid-19, o Party Sleep Repeat regressa no próximo dia 22 de abril à Oliva Creative Factory, apresentando um cartaz que inclui nomes estabelecidos da música feita em Portugal como Linda Martini, Fogo Fogo, ou David Bruno, e nomes emergentes como os YAKUZA, os mui-excitantes MAQUINA. ou os galegos Kings of the Beach. Além da música, a oitava edição do PSR conta com a oficina para toda a família “Transforma som – A corda, o barulho!” por Joana Ribeiro, “onde o som das coisas será despertado numa boa dose de improviso”, segundo o comunicado enviado à imprensa.
O Party Sleep Repeat é organizado pela Associação Cultural Luís Lima (ACLL) em parceria com Câmara Municipal e Junta de Freguesia de São João da Madeira e da Associação de Jovens Ecos Urbanos.
Para sabermos mais sobre os dez anos do festival e como é voltar a montar um evento da dimensão do PSR após três anos de interlúdio, a Playback deslocou-se à Oliva Creative Factory para trocar dois dedos de conversa com Tiago Santos, presidente da ACLL.
Três anos após um interregno, o Party Sleep Repeat está prestes a regressar à Oliva [Creative Factory]. Como é preparar um festival após três anos de pausa?
Para o público foi uma pausa, mas para nós não foi, porque sempre aventamos a possibilidade de voltar mais cedo. Com a pandemia, em primeiro lugar, cancelamos uma edição [de 2020] que tinha nomes anunciados e bilheteira aberta, e em segundo lugar, quando se desenrolou todo o processo de vacinação, o local escolhido para ser o centro de vacinação aqui da região foi a Sala dos Fornos [sala da Oliva Creative Factory onde decorre o Party Sleep Repeat]. Ou seja, mesmo do ponto de vista operacional e logístico, a sala estava ocupada, e a certa altura já não era só o impedimento de não podermos fazer o festival devido à pandemia. [Depois] já podíamos fazer o festival, mas não podíamos utilizar aquela que é a sala nobre e que acolhe o maior número de público aqui na Oliva. Portanto, várias vezes tivemos tentativas de fazer regressar o festival, mas tornaram-se tentativas frustradas porque, infelizmente, todas as previsões de desmobilização do centro de vacinação não se cumpriram. Portanto, para nós, não foi bem uma paragem. Além disso, o festival está assente numa associação cultural [Associação Cultural Luís Lima], da qual sou presidente da direção, e continuamos a desenvolver outras atividades com alguma ligação ao festival, nomeadamente com a curadoria da–
Alternativa à 5inta?
Sim. E essa curadoria, se revisitares o ano passado [2022], reparas que as datas são imediatamente antes do festival, que é o que estamos a fazer exatamente agora. Ou seja, tínhamos essa curadoria preparada para funcionar como uma forma de aquecimento para as pessoas se irem preparando para o festival. Portanto, nós nunca paramos. Agora, voltar… Para mim, pessoalmente, faltou-me sempre este momento anual, que é sempre de grande intensidade para nós. Mas acho que cada vez é mais difícil. Este período foi muito frustrante porque queríamos avançar e não conseguíamos nem víamos alternativa de o fazer sem desvirtuar o conceito [do festival]. Não era negociável para nós fazer um festival com gente sentada e também não fazia sentido fazermos um festival com lotação reduzida porque muito do que se vê neste festival é proximidade física, seja ao nível de tudo o que possa acontecer durante os concertos, na interação das bandas com o público, mas também das próprias pessoas que frequentam o festival e que, enfim, grande parte delas se conhecem. Algumas das pessoas conhecem o cariz do festival e o porquê dele ter nascido. Portanto, também é um local de reencontros, o que dá azo a esse tipo de dinâmica. Fazer isso no contexto anterior não fazia sentido para nós. Agora, as sensações que vamos ter com o festival a decorrer… descobriremos depois [risos].
O Party Sleep Repeat regressa numa altura em que se discute muito sobre o aumentar do preço da música ao vivo, algo a que nem o próprio PSR conseguiu escapar: comparativamente com a edição cancelada de 2020 e com a edição de 2019, houve um aumento do preço dos bilhetes. Como é que festivais de tamanho semelhante ao do PSR, que dependem muito de apoios públicos e privados, conseguem continuar a sobreviver neste panorama?
Bom, o nosso exemplo é muito particular, muito de nicho, porque provavelmente não existe outro festival que possa ser comparado com o nosso em termos de modelo [de negócio] Nós temos uma dificuldade extra porque temos o compromisso de doar as receitas da bilheteira para causas sociais. O que é que isso significa? Significa que temos de tentar garantir fundraising público-privado antes do festival se realizar para garantirmos que isso pode acontecer, porque isso sempre aconteceu e sempre houve a possibilidade de aumentar os donativos. Agora, o que tu dizes é verdade. Como estamos a voltar três anos depois, achamos que os custos não só em termos de equipa artística como em todas as outras rubricas – equipa técnica, materiais, transporte, alimentação – explodiram. Portanto é verdade que o festival este ano vai ser consideravelmente mais caro. O mais caro de sempre. Felizmente, a Câmara Municipal [de São João da Madeira] teve isso em atenção e reforçou o apoio que normalmente dá à associação no contexto do festival e do protocolo que tem. No entanto, ao nível de angariação de patrocínios, não vimos grandes melhorias, e ao nível de donativos privados, ainda muito pior. Isto significa que vamos partir para este festival com um nível de investimento público e privado em nós que é inferior, mas vamos recorrer à nossa própria tesouraria para fazer face a isso. Como vai ser o dia a seguir a esta edição do festival? Vamos ver. Também depende daquilo que conseguirmos angariar dentro do próprio dia do festival, em termos de merchandising e outras ações que fazemos para tentar chegar a esse equilíbrio. Mas tem sido um desafio enorme. Nós sempre pugnamos para termos um projeto sustentável e é o único ano em que isso poderá estar em causa.
Este ano marca o décimo aniversário de existência do Party Sleep Repeat. Aquilo que começou como um evento “muito privado e pessoal”, como contava o Gonçalo Antunes ao JPN em 2018, acabou por se transformar num festival de música, sempre claro com a homenagem ao Luís e a componente social muito forte do festival como pano de fundo. Ao longo destes dez anos, sentiste o público do Party Sleep Repeat a expandir-se de algo que começou em torno dos amigos e família do Luís para algo para além de São João da Madeira?
Sim, sem dúvida, de há muito tempo para cá. Notei isso claramente na terceira edição, em 2015, na qual os Linda Martini foram cabeça de cartaz. E o que aconteceu foi que, simplesmente, o festival esgotou sem qualquer expectativa e passamos de mais ou menos 600 espetadores para o dobro assim de uma edição para a outra. Não é possível fazeres isso sem criares essa massa de pessoas que se movimentam, não apenas da região, mas do país inteiro. E desde essa edição, isso é muito comum. Posso dar um exemplo: nós temos sempre autocarros gratuitos a fazer Porto-São João da Madeira, e este ano vamos ter até seis autocarros. Quando lançamos na semana passada o anúncio desses autocarros, o primeiro autocarro esgotou logo. Portanto, existe de facto muita procura. O festival claramente extravasou a cidade e a região, e mistura um pouco aquele peregrino da música que vai ver bandas específicas ou que quer ir a tudo que é festival – que se calhar é parecido com o que nós fazemos individualmente –, mas depois tens o público interessado artisticamente no que aqui se faz na cidade em peso também.
Sentes que aqui, em São João da Madeira, há afluência de malta jovem ao festival? Ou sentes que tem diminuído e não existe renovação de gerações?
Felizmente vejo, e isso alegra-me muito porque uma das coisas que me acalenta – e muito – o espírito e motiva imenso, pessoalmente, além do que já foi referido – ou seja, estarmos a prestar tributo a um amigo nosso, estarmos a oferecer uma coisa que nunca existiu na cidade e existe agora por nossa causa, e doarmos as receitas de bilheteira –, é eu estar, por exemplo, na Sala dos Fornos, ser já de noite, e olhar para a primeira fila e ver que são miúdos da cidade a vibrar com o que está ali a acontecer. É uma coisa assim encantadora, e tenho perfeita noção, primeiro, que é uma experiência que eles não teriam de outra forma [que não aqui]; segundo, que é uma experiência que adorava ter tido quando tinha a idade deles. É por isso que tentamos também não subir muito os preços dos bilhetes; é que eles realmente conseguem estar ali confortavelmente, e acho, ou quero acreditar, que aquilo de alguma forma pode ser estruturante para a vida deles. Portanto sim, tenho visto renovação de público, sem dúvida. Não te sei precisar quantitativamente em que números isso resulta, mas olhando para o público em geral, vê-se isso. E continuamos a ter muita gente das universidades aqui de perto a vir ao festival, felizmente. Ou seja, mesmo que não venham os miúdos da secundária, pelo menos quem está a tirar licenciatura vem. E até já vimos pessoas que estão cá a fazer Erasmus [risos].
Perguntei isto porque escuto em algumas conversas queixas de não existir malta nova em concertos. Mas é engraçado ouvir que aqui existe uma tendência contrária, se calhar.
Mas não nos podemos esquecer que o festival não acontece há algum tempo. Ou seja, não sei como vai correr esta edição, e eu claramente tenho essa perceção que dizes. Tenho ideia que os miúdos… Acho que vai para além de ver concertos. Mesmo em termos de formação de novas cenas artísticas, vejo mais as nossas gerações a puxar isso do que, se calhar, as gerações mais novas. Tu potencialmente podias ter não sei quantas bandas com miúdos de 18 anos e não vejo, não encontro.
Em 2016, o Party Sleep Repeat teve, pela única vez, dois dias de festival em vez do habitual dia único. Isto foi um formato que voltou a ser pensado ou é algo totalmente impossível de acontecer por restrições de tempo e orçamento?
Não, não é impossível de voltar a acontecer. Nós não temos compromissos com nada. Sempre que o festival acaba, colocamos novamente tudo em causa e queremos tentar perceber se o que fizemos resultou e se é para repetir, ou se não resultou e não fazemos mais. No caso das duas noites, quero sublinhar a palavra: noites. Não foram dois dias, foram noites. Ou seja, o que notamos? Que quando começamos um festival já durante a tarde e que se prolonga até de madrugada, que a sensação de festival que vês no público é maior, embora não exista repetição no dia a seguir. Ou seja, existe um build up que claramente se vê a crescer durante a noite e que normalmente tem a explosão para aí às duas, três da manhã. E era isso que queríamos promover. Quando houve duas noites, o que sentimos foi que as pessoas vinham mais após o jantar e acho que demorava a desenvolver o ambiente do próprio festival. Parecia muito mais um conjunto de concertos do que a sensação que nos oferecia de festival –embora, no dia seguinte, as pessoas que repetiam já estavam mais nesse espírito. Acho que o próximo passo, se o quisermos tomar – e aí entra a parte do orçamento, que neste momento, é proibitivo– não era fazer duas noites: era fazer dois dias. Ou seja, começaríamos ambos os dias, por exemplo, às quatro da tarde e acabaríamos na mesma às 5 da manhã, o que significaria fazer este festival em duplicado. Atualmente, isso não é possível – claramente – em termos de orçamento, e sempre resistimos a fazer as coisas pela metade. Podíamos fazer, por exemplo, alguns concertos na noite anterior [ao festival] que prolongasse um bocadinho as coisas, mas já discutimos muito esse formato e ainda não chegámos a uma solução com a qual estivéssemos todos de acordo e em que valha a pena apostar. Acho que vamos chegar lá, mas não sei quando nem com que apoios.
Nesta edição do Party Sleep Repeat, vai também ocorrer a oficina “Transforma som – A corda, o barulho!” com a Joana Ribeiro. Que mais podes revelar sobre essa atividade?
Desde logo, que é gratuita [risos] e nasce da nossa parceria prolongada com o Centro de Arte Oliva, que é aqui ao lado. Com o Centro de Arte Oliva, começámos por permitir, primeiro, que o nosso público com bilhete pudesse aceder à coleção e visitá-la. A seguir, o que fizemos foi garantir visitas guiadas gratuitas antes do festival. Desta vez, avançamos para o workshop, além do concerto que acontece dentro do Centro de Arte Oliva, que normalmente é o primeiro concerto do alinhamento do festival, e que te posso adiantar que vai ser Arianna Casellas e Kauê. Voltando um bocadinho atrás: o workshop é mais uma atividade que achamos alinhada com o festival, trabalhando com outras idades que não apreciam necessariamente o festival, como as pessoas mais velhas. O que notamos, até com o envelhecer da nossa geração, é que começamos a ver cada vez mais famílias a frequentar o festival, e a oferta para miúdos não estava tão bem pensada porque o festival não foi feito nesse sentido. Portanto, esta é a nossa tentativa de ter alguns pontos de interesse para miúdos mais novos. O que se pretende é que eles interajam com diferentes tipos de materiais menos convencionais e que criem alguma sensibilidade para o ruído e idealmente para a música.
Li num artigo sobre a equipa que fazia o PSR acontecer – em 2018 – que os concertos que mais te marcaram na história de edições do PSR foram os de Sensible Soccers nas duas primeiras edições do festival [em 2013 e 2014]. Cinco anos mais tarde, estes ainda são os teus escolhidos como concertos marcantes?
Enfim, são escolhas muito pessoais, não é? Porque era uma banda muito próxima do Luís, em primeiro lugar, e depois porque inclusivamente gravaram uma música intitulada “Lima” em homenagem a ele, que na altura era muito fresca e foi tocada de um modo muito próprio nessas duas edições. Não quero com isso dizer que foram os melhores concertos que já existiram no festival, contudo. Outro concerto que me marcou muito a mim pessoalmente foi o de Parkinsons [em 2019], porque foi um concerto brutal – uma palavra muito gasta, mas aqui aplica-se. Um concerto altamente punk, com uma energia completamente contagiante e uma entrega como não se vê em muitos concertos de uma banda com um track record tremendo. Tenho a certeza que eles fazem aquele concerto em qualquer lado – ou pelo menos esforçam-se por fazê-lo. Houve uma interação muito engraçada entre a banda e o público e os seguranças viram-se com alguns desafios devido a isso [risos]. Antes disso, um concerto que me marcou por ter uma energia muito semelhante foi o de Legendary Tigerman [em 2017], que como é o seu apanágio, também deixou tudo em palco e deixou as pessoas completamente loucas com a atuação dele. Enfim, digo isto porque são bandas que programamos de propósito porque o Luís tinha alguma relação com a banda, gostava delas ou já tínhamos ido ver concertos deles anteriormente. Portanto, há sempre essa ligação emocional. Agora, eu não vejo os concertos todos. Aliás, raramente vejo os concertos – só [vejo] mesmo quando são este género de concertos que tenho que ver por causa dessa perspetiva mais emocional –, mas um amigo meu disse-me uma coisa, na altura até gozei com ele [risos], que o concerto de Throes + The Shine tinha sido o melhor concerto da vida dele. Foi um concerto que correu muito bem, em que o público estava a dançar da primeira até à última fila, e, curiosamente, também é uma banda com a qual o Luís tinha uma ligação, eles conheciam-se pessoalmente. Portanto, são esses os que daria destaque. Mas é sempre aquele síndrome de escolher o filho preferido, o que não gosto de fazer [risos].
Já vi essas bandas todas ao vivo e todas foram uma experiência única. O Tigerman vi-o nessa altura naquela tour conjunta [Rumble In the Jungle] com os Linda Martini-
A dos clubs?
Sim.
Essa deve ter sido incrível, sim.
Foi, e eu vi no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Mas um amigo meu viu essa tour num club em Alpedrinha, que é para os lados da Covilhã, e disse que foi incrível.
Por acaso, acho que o nosso festival beneficia de ter um ambiente de club, ou seja, estás muito perto dos músicos. Por um lado, às vezes nem sequer há grandes proteções, e por outro, tens outra coisa, em que os músicos se misturam com o público, e aqui é muito normal ver isso a acontecer. Há essa perspetiva de ser um festival acolhedor, que é também uma das nossas propostas de valor.
O cartaz do Party Sleep Repeat sempre se moveu na combinação entre nomes estabelecidos e emergentes, especialmente da música feita em Portugal. Este ano, temos o caso dos MAQUINA. e dos Yakuza, que são talvez os nomes que mais se destacam em termos de novidade. De momento, que outros artistas portugueses emergentes tens no teu radar?
Essa pergunta – eu vou respondê-la –, levanta um bocadinho o véu do que se segue, não é? [Risos] Os Fumo Ninja acho que são um projeto muito interessante. Depois, se me fizeres a pergunta mais em aberto, dá para falar sobre muita coisa porque há bandas emergentes que são interessantes, mas que não são interessantes para o festival. Portanto, vou-te responder de forma mais abrangente. Bia Maria acho que também é uma artista muito interessante, e depois existem algumas bandas parecidas com os YAKUZA, como os OCENPSIEA, que são intrigantes. Nomeio-te essas três do panorama nacional.
Por fim, que convite deixas a quem nunca veio ao Party Sleep Repeat?
Que é um festival único e, para quem gosta de música ao vivo e de festivais, não há-de ter um paralelo muito semelhante em Portugal. Primeiro, estamos a falar de uma infraestrutura muito única. Estamos a falar de um distrito industrial que vem sendo reabilitado e onde existe convivência entre a arquitetura industrial mais antiga, mais relacionada com o Estado Novo, com a sua decadência própria, e novos elementos. Ou seja, a envolvência do festival tem essa particularidade muito interessante, para mim, em termos estéticos. Por exemplo, um dos nossos palcos – o Palco Terraço – tem uma vista sobre a cidade que, para quem é de São João da Madeira, é muito familiar, mas para quem é de fora, não é tanto. Falamos de ver o conjunto de dedos de tijolo a apontar para o céu, as chaminés do nosso património industrial que se vêem pela cidade toda, e se olharmos mais em redor, vemos uma coisa que para mim é encantadora mas que pode ser horrível para outras pessoas, e que é toda a outra parte da Oliva que ainda não está reabilitada. Uma estrutura a perder de vista, completamente devoluta, completamente destruída. A mim, encanta-me essa convivência entre as duas realidades. Depois, outra coisa que também acrescenta bastante valor é o Centro de Arte Oliva, que vai estar ao dispor de quem nos visitar no dia do festival. As coleções de arte contemporânea e arte bruta são, na minha opinião e da das pessoas com quem contacto, de uma riqueza enorme, e até acho que desse ponto de vista não existe ainda muita awareness sobre o que há cá para ver, mesmo em termos de artistas conhecidos, como a Paula Rego, por exemplo. Depois, todo o ambiente que se vive num festival desprovido de marcas. Somos nós que estamos lá a trabalhar sem ganhar nada [risos], com a ajuda de voluntários que em grande parte são jovens aqui da cidade e que se predispõem a trabalhar ao nosso lado em tudo o que for necessário. Também somos nós a conceptualizar os nossos bares, e acho que o atendimento que fornecemos, enquanto pessoas daqui da região, é um factor diferenciador. Depois, obviamente, a programação, que é sempre o mais importante, e este ano investimos muito mais por ser o décimo aniversário, e temos a certeza que as bandas vão corresponder às expectativas, como correspondem sempre. E há ainda um quinto ponto, que é muito difícil de explicar, e que é a aura, o ambiente que se sente num festival como este. Posso dizer que em oito edições nunca tivemos nenhuma confusão, o que num evento deste género, infelizmente é normal acontecer. Portanto, as pessoas estão sempre muito bem dispostas no geral. Existe assim um clima de amor e de amizade.
Podes adquirir bilhetes para a oitava edição do Party Sleep Repeat aqui. As receitas da bilheteira revertem para causas sociais.