Na semana passada fui tomar café com uma amiga duma amiga que estava na cidade para o MaMA Festival. O contacto tinha-me sido passado porque essa minha amiga, emigrada na China desde sei lá quando, estava à procura de gente com contactos na indústria musical europeia que pudesse trocar dois dedos de conversa informal com a tal colega, que é promotora independente de espectáculos. Expliquei-lhe que já não estava muito por dentro da coisa há uns bons anos (uma gaja tem de manter a sanidade mental), mas que claro que ajudaria no que pudesse e soubesse.
Depois dos usuais primeiros minutos de conversa de circunstância, a curiosidade dela voltou-se imediatamente para o óbvio: qual o estado da indústria musical independente no ocidente? Em que termos são promovidos concertos, tours, strings promocionais? Que tipo de ajudas (se existirem) são facultadas a artistas, labels, promotoras? E claro, a pergunta dos cem mil euros: o panorama geral é sustentável?
Rindo-me nervosamente para não chorar, fiz-lhe um pequeno resumo do que por cá se passa, tendo cuidado para não generalizar demasiado e explicando que a realidade dita ocidental (Europa, UK, América do Norte) é tudo menos homogénea. Falei de peixes grandes devorando incessantemente peixinhos pequenos; de cachets que não são actualizados desde os tempos do MySpace; da crise imobiliária que encerra venues como se fosse desporto olímpico; da insistência pós-liberal em culpar artistas, agentes, e outros que tais pela sua própria sorte, alegando “falta de empreendedorismo e de expertise financeira” e que “o mercado tem o direito de se auto-regular.”
Seguiu-se um silêncio. Fitando o copo de vinho branco que tinha em frente, enrolou calmamente um cigarro antes de olhar em volta e suspirar: “Bem, ao menos sossega-me saber que não é só na China.”
