Nunca gostei muito do orgulho desmedido que vem com a palavra “resistência.” Claro que denota uma certa teimosia em recusar a submeter-se a um rebanho que não faz sentido (ou que é pura e simplesmente prejudicial), e isso deve ser visto como algo louvável e salutar; mas também pressupõe uma força em constante reacção, que existe em função duma outra que, para o melhor e (normalmente) para o pior, se encarrega de ditar as regras.
O cansaço e o desânimo que tão facilmente se instalam numa luta cega e inglória pela justiça, paz, e verdade alimentam-se deste detalhe etimológico. Resistir tem o seu quê de passivo, de negação—e toda a gente sabe que é mais complicado modificar a rota quando o navio já partiu. Resistir também implica sempre um esforço consideravelmente maior e mais ingrato, correndo o risco de cair ou numa invisibilidade contraproducente, ou na rejeição por parte duma opinião pública que, seja por medo, fadiga, ou conformismo, reservam os seus últimos cartuchos para “os chatos do costume.” E assim corrói a frustração, vergando até quem se achava com vocação para mártir.
Isto podia ser sobre muitas coisas, e na verdade até o é. Jogar à defesa não deixa de ser uma estratégia válida, mas será que vale a pena viver numa constante tentativa de antecipação da próxima manobra do adversário? Há uns dias, em conversa com amigos, defendia que um dos maiores actos de resistência que podemos perpetuar é a alegria; pode parecer fútil ou até alienante, mas negar ao inimigo o prazer de nos ver em desespero, raiva, ou prestes a baixar os braços, acaba por ser uma pequena vitória—e, nos tempos que correm, todas as vitórias contam.
Enquanto esta nuvem negra de bares que fecham, artistas (e jornalistas, e outros profissionais da indústria) pagos a salários do século passado, música ao vivo a preços proibitivos, e outras admiráveis delícias dum pós-capitalismo galopante não se dissipar, a solução se calhar não está em procurarmos abrigo constante, e sim em sairmos de vez em quando para dançar sob a chuva.