Editorial #32

Só comecei a ouvir música no telefone quando já era adulta. No início desses tempos revolucionários, a promessa da comodidade adicional não chegou para me convencer a largar o leitor de MP3. Desde o início da adolescência que carregar um aparelho qualquer unicamente dedicado à audição de música era ritual diário obrigatório. Já não sou propriamente do tempo do Walkman, mas tive dois Discmans (moderníssimos, que já liam CD-R atafulhados de MP3) e um sem número de leitores de MP3. 

Olhando para trás, engendro algumas possíveis justificações para o meu posicionamento como Velha do Restelo, desde a poética de ter um dispositivo exclusivo para ouvir música aos mitos infundados sobre qualidade de reprodução. Não tenho grandes motivos para acreditar que a Rute do passado estava correcta, mas de vez em quando a nostalgia ataca. A grande diferença desse passado para hoje era a necessidade de escolher o que teria lugar numa biblioteca portátil com capacidade limitada. Eu era o meu próprio algoritmo, em permanente mutação, mas com tempo para a descoberta, a degustação e o desencanto. Hoje, há outras vantagens, como andar menos carregada e ter imediatamente acesso a toda a música que sai. Não tenho necessariamente preferência nesta dicotomia entre foco e acesso, mas estou com vontade de comprar um leitor de mp3.

O primeiro artigo que escreveu sobre música eletrónica foi para o jornal da escola. Continuou a escrever, passou por uma grande promotora, mas foi na rádio que alimentou a maior paixão. A sua voz atravessou a antena de quase uma dezena de estações, mas teve residência permanente na Oxigénio durante cerca de cinco anos. Mais tarde, fundou o Interruptor. Atualmente é uma das responsáveis pela campanha Wiki Loves Música Portuguesa.
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