Só comecei a ouvir música no telefone quando já era adulta. No início desses tempos revolucionários, a promessa da comodidade adicional não chegou para me convencer a largar o leitor de MP3. Desde o início da adolescência que carregar um aparelho qualquer unicamente dedicado à audição de música era ritual diário obrigatório. Já não sou propriamente do tempo do Walkman, mas tive dois Discmans (moderníssimos, que já liam CD-R atafulhados de MP3) e um sem número de leitores de MP3.
Olhando para trás, engendro algumas possíveis justificações para o meu posicionamento como Velha do Restelo, desde a poética de ter um dispositivo exclusivo para ouvir música aos mitos infundados sobre qualidade de reprodução. Não tenho grandes motivos para acreditar que a Rute do passado estava correcta, mas de vez em quando a nostalgia ataca. A grande diferença desse passado para hoje era a necessidade de escolher o que teria lugar numa biblioteca portátil com capacidade limitada. Eu era o meu próprio algoritmo, em permanente mutação, mas com tempo para a descoberta, a degustação e o desencanto. Hoje, há outras vantagens, como andar menos carregada e ter imediatamente acesso a toda a música que sai. Não tenho necessariamente preferência nesta dicotomia entre foco e acesso, mas estou com vontade de comprar um leitor de mp3.