Tenho pensado muito na morte do Steve Albini. Como veio de repente, sem aviso, como me deixou sem chão.
O Steve, de certa forma, sempre influenciou a forma como vejo a música, e como é possível crescermos com os erros e merdas francamente absurdas e nojentas que dissemos no passado. Ele não era role model algum – ele odiaria ser visto dessa forma – mas é impossível não pensar no ethos com que abordava o seu trabalho como “engenheiro” (ele detestava a tag de produtor) nos discos em que trabalhava.
A quantidade de palavras que se escreveu sobre o Steve nas últimas semanas dava para encher livros. O seu impacto no universo do meu querido rock alternativo é inegável e o seu legado no mundo da música é impossível de quantificar. A lista de discos em que trabalhou é interminável e nem sequer consigo nomear todos em que ele trabalhou que figuram na minha coleção de favoritos.
O Steve respondia a todos os e-mails e atendia sempre o telefone (pelo menos, as histórias assim o dizem). Desde que, claro, as pessoas a entrar em contacto tivessem as intenções certas.
Gosto de pensar que aplico algo disso na forma como vejo a minha escrita. Fazê-la de forma rápida e eficiente, sempre pelo amor à música, e não por qualquer estatuto que possa obter disto (apesar disso, quem me dera que eu e grande parte das pessoas que escrevem na Playback fizessem vida disto).
Numa entrevista ao Guardian em 2023, Albini dizia o seguinte sobre o seu ofício e o seu trabalho no seu estúdio, o Electric Audio, localizado em Chicago, Illinois.
“Estou a continuar a trabalhar e isso é o que importa para mim. Estava a trabalhar ontem e vou trabalhar amanhã e vou continuar a fazê-lo.”
Como te entendo, Steve. Enquanto estiver a escrever, só isso me importa. E escrevi ontem, escreverei amanhã e escreverei até não o conseguir fazer mais.
A ti, camarada.