No final de fevereiro, o Guardian abriu um formulário em que perguntava aos seus leitores se alguma vez tinham sido super fãs de música e, caso tivessem deixado de o ser, que detalhassem as razões para esse desencontro. Há vários anos que tento responder a esta questão. O resumo das minhas razões: o grind constante para te manteres à tona, os salários mínimos, os textos não pagos, os horários desregulados, a desvalorização permanente do ofício, a mercantilização exponencial da cena musical, os milhares de festivais onde todos tocam a toda a hora, a urgência de criticar centenas de discos antes sequer de eles saírem, a avalanche ininterrupta de singles, EPs e a morte do álbum, as tendências, os nepobabies, a sobrevalorização da opinião de gatekeepers, as qualificações que só servem se for para te pagarem menos do que mereces, a vassalagem permanente a um conjunto de pessoas que dominam a cena ou te dão essa ilusão, os concertos caríssimos, os bilhetes esgotados em segundos, milhares de pessoas à frente do palco mas de costas para ele. Mas haja esperança.
Há duas semanas, celebrámos o aniversário da Playback numa festa simpática no espaço cultural Prisma. Juntámos a equipa em pessoa pela primeira vez, a incrível Ana Leorne apresentou o seu livro numa conversa com o adorável Hugo Geada, passámos música, dançámos, sorrimos muito, comemos bolo, e fizemos o melhor do mundo – abraçámos amigos de sempre e outros novos. Fossem todos os dias assim, porque ser super fã de música ganha sentido nestes momentos de amor e devoção partilhados. Que seja o primeiro aniversário de muitos. Parabéns, Playback, e abraços mil aos meus companheiros de viagem – a equipa e quem nos lê.