Sob as camadas de Denso

Nos últimos anos, tenho notado uma mudança significativa na minha relação com a música, especialmente quando se trata de bandas nacionais. Talvez seja eu a ficar mais saudosista com o passar do tempo, ou talvez sejam elas a aprimorar a sua arte de uma forma que ressoa profundamente comigo. Seja qual for o caso, uma coisa é certa: as bandas nacionais têm captado cada vez mais a minha atenção e espaço no coração. É como se estivessem a passar por uma espécie de renascimento, encontrando novas formas de expressão – o que me agrada bastante.

Portanto, ao adentrar na análise deste álbum, é impossível não reconhecer o papel fundamental que as bandas nacionais têm desempenhado na minha vida e na vida de muitos outros. Que seja apenas mais um ponto positivo de uma jornada contínua.

Os Galgo são Alexandre Moniz, Joana Komoreabi, João Figueiras e Miguel Figueiredo, uma força emergente na cena musical nacional que lança agora o quarto trabalho, Denso, com o selo da Saliva Diva. Muito mais do que apenas uma coleção de músicas, Denso é uma jornada sonora meticulosamente elaborada que convida os ouvintes a mergulharem nas profundezas da psique humana e explorar os recantos mais sombrios da emoção.

Galgo.
Galgo. Fotografia por Ana Viotti

Desde as primeiras notas da faixa de abertura, “~~”, que os Galgo estabelecem um ambiente inquietante e atmosférico que teima em permanecer em todo o álbum. As camadas de guitarras etéreas e os batimentos pulsantes criam uma paisagem sonora que é ao mesmo tempo imersiva e envolvente. É como se fossemos transportados para um mundo paralelo, onde as fronteiras entre a realidade e o sonho se desfazem.

Ao longo de Denso, vemos os novos Galgo. Aqueles que demonstram uma habilidade excecional para alternar entre momentos de intensidade visceral e de contemplação serena. Faixas como “Vapor” e “Profunda” – singles de avanço – exploram letras simples que ressoam profundamente com a alma. A combinação de letras evocativas e arranjos musicais hipnóticos cria uma experiência auditiva que é ao mesmo tempo angustiante e bela.

No entanto, é nas faixas “Nadamar” e “Super Sólido” que sinto que os Galgo realmente atingem o seu auge criativo. Perdoem-me a ignorância da minha cultura gaming, mas creio que posso utilizar um paralelismo: de repente senti-me transportada para a ultimate fight com o ultimate boss, num daqueles epic games que nos destroem a alma e, convenhamos, as mãos de tanto clicar ao rubro em todos os botões para, finalmente, como por magia, derrotar aquele que nos iria tirar a última vida. “Super Sólido”, este pedaço de composição musical, é uma odisseia sonora que, tal como acontece comigo, acredito levar os ouvintes por reviravoltas inesperadas e paisagens sonoras exuberantes. Os arranjos intrincados e a dinâmica emocional desta faixa são verdadeiramente impressionantes, demonstrando a maturidade artística da banda. Sim, nota-se uma clara mudança neste álbum – e deixem-me arriscar dizer: ainda bem! Desde os momentos de calmaria serena até os picos de intensidade vertiginosa, Denso é uma montanha-russa emocional que mantém os ouvintes cativados do início ao fim.

Ao longo do álbum, os Galgo mostram uma habilidade notável em fundir uma variedade de influências musicais, desde o pós-rock até ao shoegaze e à dream pop. Esta fusão de estilos resulta numa experiência auditiva que é ao mesmo tempo acessível, desafiadora e cativante. Cada faixa de Denso é uma peça de um quebra-cabeças, que contribui para o panorama sonoro geral e eleva o álbum a novas alturas.

No entanto, Denso não é apenas uma experiência musical; é uma jornada emocional que ressoa com os ouvintes em um nível profundo. Os arranjos atmosféricos criam um espaço para a reflexão e a contemplação, convidando-nos a explorar os cantos mais escuros das nossas próprias mentes. É um álbum que exige ser ouvido com atenção.

Em suma, Denso é um triunfo artístico para os Galgo. Com este álbum, solidificam o seu lugar na cena nacional e demonstram um domínio impressionante da sua arte. Denso é mais do que apenas um álbum; é uma experiência musical transcendental que fica gravada na mente dos ouvintes por muito tempo, mesmo após as últimas notas desaparecerem. É uma jornada sonora na qual vale a pena embarcar e uma prova do poder duradouro da música para tocar e transformar as almas daqueles que a ouvem.

Os Galgo tocam Denso no dia 27 de março na Musa de Marvila, em Lisboa.

Nascida em Braga, teve o seu primeiro contacto com o mundo nos anos 90. Copywriter de gema, fez crítica musical e gestão de projeto na Que Amor É Este, mas foi na Bazuuca que se afirmou como "a eterna estagiária". Quando está fora da internet, é fácil apanhá-la na sala de concertos mais próxima.

Uma jornada musical com os Galgo.

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