Num dos seus espetáculos de comédia, o britânico Nish Kumar tem uma piada sobre querer ser o baterista dos Coldplay. A ideia é que vive num enclave mágico em que consegue recolher os benefícios de pertencer a uma das bandas mais conhecidas do mundo, mantendo uma certa privacidade por não ser o protagonista mediático do grupo.
Até às notícias da sua morte, não fazia ideia de quem era Elísio Donas. Podia desculpar-me, dizendo que não sou a maior fã de Ornatos Violeta, mas talvez isso não fizesse diferença. Hoje, sei que é em boa parte devido ao seu talento que O Monstro Precisa de Amigos continua a ser um álbum a que regresso com alguma regularidade. São os seus arranjos que abrem o álbum tornando-o imediatamente hipnótico, é ele quem eleva o refrão de “Dia Mau” ao seu esplendor máximo, foram as suas mãos que imortalizaram a melodia de “Ouvi Dizer” (ainda que tenha sido escrita por Cruz) naquela introdução etérea e trágica ao piano.
A Ana Leorne escreveu melhor sobre a sua vida, o seu percurso e obra; também ajudou o Miguel Rocha a desenhar uma lista de reprodução com alguns dos seus trabalhos mais emblemáticos.
Não sei bem até que ponto Donas terá recolhido algum benefício por ter feito parte de umas das bandas mais marcantes da música nacional nos últimos 25 anos (ser músico em Portugal é uma missão tantas vezes ingrata). O sistema alimenta o endeusamento de vocalistas e líderes, geralmente empossados de forma unilateral. Talvez Elísio Donas seja mais um para a lista de “músicos escondidos na sombra do seu próprio talento, glorificados quando nos deixam”. Quanto a mim, estarei sempre grata pelas canções com que me acompanhou.